Nosso Canal

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O mundo inteiro espera a resposta de Maria.

Das Homilias de São Bernardo, abade, em louvor da Virgem Mãe (Hom. 4, 8-9: Opera Omnia, Edt. Cisterc. 4(1966), 53-54)

Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar á luz um filho: não de homem----tu ouviste-----mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar a Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos uma palavra de misericórdia.


E eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Fomos todos criados no Verbo eterno de Deus, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados á vida.

Ó virgem cheia de bondade, o triste Adão, expulso do paraíso com a sua pobre descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região das sombras da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prosternado a teus pés.

E não é razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a libertação dos condenados, a salvação enfim de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.

Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor pelo Anjo. Responde uma palavra e acolhe a Palavra; pronuncia a tua palavra e concede a Palavra de Deus; profere uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.

Por que tardas? Por que hesitas? Crê, fala conforme a tua fé e acolhe. Que tua humilde se revista de audácia, tua modéstia de confiança. De nenhum modo convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessária é agora tua virtude nas palavras.

Abre, ó Virgem santa, teu coração á fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate á tua porta. Ah! Se, enquanto tardas, ele passa adiante e começas de novo a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre,abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. “Eis aqui”, diz a Virgem, “a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Remédios contra o modernismo - Papa São Pio X

REMÉDIOS

São Pio X
A esta torrente de gravíssimos erros, que às claras e às ocultas se vai avolumando, o Nosso Predecessor Leão XIII, de feliz memória, procurou energicamente   levantar um dique, principalmente no que se refere às Sagradas Escrituras. Já vimos, porém, que os modernistas não se deixam facilmente intimidar; eis porque, aparentando o maior acatamento e a mais apurada humildade, inverteram as palavras do Pontífice do modo que lhes convinha, e propalaram que os atos do mesmo eram dirigidos a outros. Destarte o mal, dia a dia, foi tomando maiores proporções.

É por isto, Veneráveis Irmãos, que decidimos lançar mãos, sem demora, de medidas mais enérgicas. Nós, porém, vos pedimos e suplicamos que em negócio de tal monta nada, de modo algum, se deixe a desejar em vossa vigilância, desvelo e fortaleza. E isto mesmo que vos pedimos e de vós esperamos, pedimo-lo também e esperamo-lo dos demais pastores das almas, dos educadores e mestres do jovem clero, e particularmente dos Superiores gerais das Ordens religiosas.

I. No que se refere aos estudos, queremos em primeiro lugar e mandamos terminantemente, que a filosofia escolástica seja tomada por base dos estudos sacros. Bem se compreende que «se os doutores escolásticos trataram certas questões com excessiva argúcia, ou foram omissas noutras; se disseram coisas que mal se acomodam com as doutrinas apuradas nos séculos posteriores, ou mesmo alguma coisa inadmissível, mui longe está de nossa intenção querer que tudo isto deva servir de exemplo a imitar nos nossos dias (Leão XIII, Enc.Aeterni Patris).

O que importa saber, antes de tudo, é que a filosofia escolástica, que mandamos adotar, é principalmente a de Santo Tomás de Aquino; a cujo respeito queremos fique em pleno vigor tudo o que foi determinado pelo Nosso Predecessor e, se há mister, renovamos, confirmamos e mandamos severamente sejam por todos observadas aquelas disposições. Se isto tiver sido descuidado nos seminários, insistam e exijam os Bispos que para o futuro se observe. Tornamos extensiva a mesma ordem aos Superiores das Ordens religiosas. E todos aqueles que ensinam fiquem cientes de que não será sem graves prejuízos que especialmente em matérias metafísicas, se afastarão de Santo Tomás.

Fundamentada assim a filosofia, sobre ela se erga com a maior diligência o edifício teológico. Veneráveis Irmãos, promovei com toda a solicitude o estudo da teologia, de tal sorte que ao saírem dos seminários os clérigos lhe tenham alta consideração e profundo amor, e sempre o conservem carinhosamente. Porquanto é de todos sabido que na quase infinitude das disciplinas que se apresentam às inteligências ávidas do saber, é tão certo que à teologia cabe o primeiro lugar, que os antigos diziam que era dever das outras ciências e artes servirem-na e auxiliarem-na como escravas (Leão XIII, carta ap. In magna, 10/12/1889). Aproveitamos esta ocasião para dizer que Nos parecem dignos de louvor aqueles que, salvando o respeito devido à Tradição, aos Santos Padres, ao magistério eclesiástico, procuram esclarecer a teologia positiva com prudente critério e normas católicas (coisa que nem sempre se observa), tirando luzes da verdadeira história. Certo é que na atualidade, à teologia positiva se deve dar maior extensão que outrora; entretanto, isto se deve fazer de tal sorte que não seja de nenhum modo em detrimento da teologia escolástica, e sejam censurados como fautores do modernismo, aqueles que de tal modo elevam a teologia positiva que parece quase desprezarem a escolástica.

Quanto às disciplinas profanas, basta lembrar o que sabiamente disse o Nosso Predecessor (Alloc. De 7/03/1880): «Aplicai-vos diligentemente ao estudo das coisas naturais; pois, assim como em nossos dias as engenhosas descobertas e os úteis empreendimentos com sobeja razão são admirados pelos contemporâneos, da mesma sorte serão alvo de perenes louvores e encarecimentos dos vindouros». Seja isto feito sem prejuízo dos estudos sacros; assim também o advertiu o mesmo Nosso Predecessor, pela seguintes palavras (lugar citado): «A causa de tais erros, se a investigarmos cuidadosamente, provém principalmente de que hoje, quanto maior intensidade se dá aos estudos das ciências naturais, tanto mais se descuram as disciplinas mais severas e mais elevadas; algumas destas são, de fato, quase atiradas ao esquecimento; outras são tratadas com pouca vontade e de leve, e, coisa indigna, perdido o esplendor de sua primitiva dignidade, são deturpadas por opiniões inverossímeis e por enormes erros. É esta a lei à qual mandamos que se conformem os estudos das ciências naturais nos seminários.

II. Em vista tanto destas Nossas disposições como da do Nosso Antecessor, convém prestar muita atenção toda vez que se tratar da escolha dos diretores e professores tanto dos seminários quanto das Universidades católicas. Todo aquele que tiver tendências modernistas, seja ele quem for, deve ser afastado quer dos cargos quer do magistério; e se já tiver de posse, cumpre ser removido.

Faça-se o mesmo com aqueles que, às ocultas ou às claras, favorecerem o modernismo, louvando os modernistas, ou atenuando-lhes a culpa, ou criticando a escolástica, os Santos Padres, o magistério eclesiástico, ou negando obediência a quem quer que se ache em exercício do poder eclesiástico; bem assim como aqueles que se mostrarem amigos da novidade em matéria histórica, arqueológica e bíblica; e finalmente com aqueles que se descuidarem dos estudos sacros ou parecerem dar preferência aos profanos. Neste ponto, Veneráveis Irmãos, e particularmente na escolha dos lentes, nunca será demasiada a vossa solicitude e constância; porquanto, é o mais das vezes ao exemplo dos mestres que se formam os discípulos. Firmados, portanto, no dever da consciência, procedei nesta matéria com prudência, mas também com energia.

Não  deve ser  menor a vossa  vigilância e severidade na escolha daqueles que devem ser admitidos ao Sacerdócio. Longe, muito longe do clero esteja o amor às novidades; Deus não vê com bons olhos os ânimos soberbos e rebeldes! A ninguém doravante se conceda a láurea da teologia ou direito canônico, se primeiro não tiver feito todo o curso de filosofia escolástica. Se, não obstante isto, ela for concedida, será nula. Tornem-se doravante extensivas a todas as nações as disposições emanadas da Sagrada Congregação dos Bispos e Regulares no ano 1896, acerca da freqüência dos clérigos regulares e seculares da Itália às Universidades. Os clérigos e sacerdotes inscritos a um Instituto ou a uma Universidade católica, não poderão frequentar nas Universidades civis cursos também existentes nos Institutos católicos a que se inscreveram. Se, em tempos passados, isto tiver sido concedido em algum lugar, mandamos que de ora em diante não mais se permita. Ponham os Bispos que formam o conselho diretivo de tais Institutos católicos ou Universidades católicas, o maior empenho em fazer observar estas nossas determinações.

Pascendi Dominici Gregis - Papa São Pio X

Juramento ao clero Católico imposto por São Pio X contra os erros dos modernistas.

Em 4 de agosto de 1903, o Cardeal Giuseppe Sarto foi eleito para o Sumo Pontificado, como sucessor de São Pedro, sendo coroado a 9 do mesmo mês. Escolheu para si o nome de Pio X.

Seu Lema foi: Instaurare omnia in Christo. (Instaurar todas as coisas em Cristo) O Juramento abaixo é uma profissão da fé católica cuja pureza e integridade o satânico modernismo visa deturpar.

Foi imposto pelo Papa, com autoridade divina, porque a fé íntegra é condição para pertencer à Igreja e por conseguinte para exercer qualquer ofício nela.


 ***

The Oath Against Modernism
Juramento Anti-Modernista
Sacrorum antistitum
The Oath Against Modernism

Eu, ______________, firmemente abraço e aceito cada uma e todas as definições feitas e declaradas pela autoridade inerrante da Igreja, especialmente estas verdades principais que são diretamente opostas aos erros deste dia. 

Antes de mais nada eu professo que Deus, a origem e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão a partir do mundo criado (Cf Rom. 1,90), ou seja, dos trabalhos visíveis da Criação, como uma causa a partir de seus efeitos, e que, portanto, Sua existência também pode ser demonstrada. 

Segundo: eu aceito e reconheço as provas exteriores da revelação, ou seja, os atos divinos e especialmente os milagres e profecias como os sinais mais seguros da origem divina da Religião cristã e considero estas mesmas provas bem adaptadas à compreensão de todas as eras e de todos os homens, até mesmo os de agora.

Terceiro, eu acredito com fé igualmente firme que a Igreja, Guardiã e mestra da Palavra Revelada, foi instituída pessoalmente pelo Cristo histórico e real quando Ele viveu entre nós, e que a Igreja foi construída sobre Pedro, o príncipe da hierarquia apostólica, e seus sucessores pela duração dos tempos. 

Quarto: eu sinceramente mantenho que a Doutrina da Fé nos foi trazida desde os Apóstolos pelos Padres ortodoxos com exatamente o mesmo significado e sempre com o mesmo propósito. Assim sendo, eu rejeito inteiramente a falsa representação herética de que os dogmas evoluem e se modificam de um significado para outro diferente do que a Igreja antes manteve. Condeno também todo erro segundo o qual, no lugar do divino Depósito que foi confiado à esposa de Cristo para que ela o guardasse, há apenas uma invenção filosófica ou produto de consciência humana que foi gradualmente desenvolvida pelo esforço humano e continuará a se desenvolver indefinidamente. 

Quinto: eu mantenho com certeza e confesso sinceramente que a Fé não é um sentimento cego de religião que se alevanta das profundezas do subconsciente pelo impulso do coração e pela moção da vontade treinada para a moralidade, mas um genuíno assentimento da inteligência com a Verdade recebida oralmente de uma fonte externa. Por este assentimento, devido à autoridade do Deus supremamente verdadeiro, acreditamos ser Verdade o que foi revelado e atestado por um Deus pessoal, nosso Criador e Senhor. 

Além disso, com a devida reverência, eu me submeto e adiro com todo o meu coração às condenações, declarações e todas as proibições contidas na encíclica Pascendi e no decreto Lamentabili, especialmente as que dizem respeito ao que é conhecido como a história dos dogmas. 

Também rejeito o erro daqueles que dizem que a Fé mantida pela Igreja pode contradizer a história, e que os dogmas católicos, no sentido em que são agora entendidos, são irreconciliáveis com uma visão mais realista das origens da Religião cristã. 

Também condeno e rejeito a opinião dos que dizem que um cristão erudito assume uma dupla personalidade - a de um crente e ao mesmo tempo a de um historiador, como se fosse permissível a um historiador manter coisas que contradizem a Fé do crente, ou estabelecer premissas que, desde que não haja negação direta dos dogmas, levariam à conclusão de que os dogmas são falsos ou duvidosos. 

Do mesmo modo, eu rejeito o método de julgar e interpretar a Sagrada Escritura que, afastando-se da Tradição da Igreja, da analogia da Fé e das normas da Sé Apostólica, abraça as falsas representações dos racionalistas e sem prudência ou restrição adota a crítica textual como norma única e suprema. 

Além disso, eu rejeito a opinião dos que mantém que um professor ensinando ou escrevendo sobre um assunto histórico-teológico deve antes colocar de lado qualquer opinião preconcebida sobre a origem sobrenatural da Tradição católica ou a promessa divina de ajudar a preservar para sempre toda a Verdade Revelada; e que ele deveria então interpretar os escritos dos Padres apenas por princípios científicos, excluindo toda autoridade sagrada, e com a mesma liberdade de julgamento que é comum na investigação de todos os documentos históricos profanos. 

Finalmente, declaro que sou completamente oposto ao erro dos modernistas, que mantém nada haver de divino na Tradição sagrada; ou, o que é muito pior, dizer que há, mas em um sentido panteísta, com o resultado de nada restar a não ser este fato simples - a colocar no mesmo plano com os fatos comuns da história - o fato, precisamente, de que um grupo de homens, por seu próprio trabalho, talento e qualidades continuaram ao longo dos tempos subsequentes uma escola iniciada por Cristo e por Seus Apóstolos. 

Prometo que manterei todos estes artigos fielmente, inteiramente e sinceramente e os guardarei invioladas, sem me desviar em nenhuma maneira por palavras ou por escrito. Isto eu prometo, assim eu juro, para isso Deus me ajude, e os Santos Evangelhos de Deus que agora toco com minha mão.

São Pio X
01/09/1910

terça-feira, 20 de agosto de 2013

São Bernardo - “E Ele lhes era submisso…”

SÃO BERNARDO, ABADE E DOUTOR DA IGREJA

Memória

Nasceu no ano 1090 perto de Dijon (França) e recebeu uma piedosa educação. Admitido, no ano 1111, entre os Monges Cistercienses, foi eleito, pouco tempo depois, abade do mosteiro de Claraval. Com a sua atividade e exemplo exerceu uma notável influência na formação espiritual dos seus irmãos religiosos. Por causa dos cismas que ameaçavam a Igreja, percorreu a Europa para restabelecer a paz e a unidade. Escreveu muitas obras de teologia e ascética. Morreu em 1153.

***


 Homilía sancti Bernárdi Abbátis
(Homilia de São Bernardo Abade)
Homilia 1 supra Missus est, n. 7-8

“E Ele lhes era submisso”. Quem era submisso a quem? Deus ao homem! Deus, repito-o, a Quem os Anjos são submissos, Que os Principados e Potestades obedecem, era submisso a Maria, e não somente a Maria, mas a José também, por causa de Maria. Maravilhemo-nos, pois, com os dois, e escolhamos o que maravilha mais: se é a benigníssima condescendência do Filho, ou a excelentíssima dignidade da Sua Mãe. Ambas nos estupefazem, e ambas são milagres. Que Deus obedeça uma mulher, é humildade ímpar; que uma mulher reja Deus, uma elevação incomparável. Em louvor às virgens, canta-se, particularmente, que seguem o Cordeiro por onde quer que Ele vá. De que louvor, portanto, é digna Aquela que até vai diante d’Ele?
 
Aprende, ó homem, a obedeceres! Aprende, ó terra, a te submeteres! Aprende, ó pó, a seres submisso! O Evangelista, falando de teu Criador, disse : “E Ele lhes era submisso”. E não há dúvida de que isso nos evidencia que Deus era submisso a Maria e José. Que vergonha para ti, ó ser de pó e cinzas! Deus Se abaixou, e tu, ó criatura tirada da terra, te exaltas? Deus Se submeteu ao homem, e tu, sempre tão ávido por te fazer senhor dos homens, ousas desmandar teu próprio Criador? Porque todas as vezes que Eu desejo preeminência sobre os homem, me esforço para superar Deus. Porque d’Ele foi dito : “Ele lhes era submisso”. Se tu desdenhas, ó homem, seguir o exemplo do homem, pelo menos poder seguir o exemplo do teu Criador sem desonra. Se, por acaso, não podes segui-l’O onde quer que Ele vá, digna-te, ao menos, segui-l’O nesse ponto no qual Ele Se rebaixou, desprezando a própria reputação pelo bem daqueles como tu.

Se não podes entrar para os caminhos sublimes da virgindade, ao menos segue Deus pela estrada seguríssima da humildade. Quem se desvia desse caminho reto, mesmo que seja virgem, a verdade seja dita, não segue o Cordeiro por onde quer que Ele vá. O homem humilde, mesmo que manchado de pecado, segue o Cordeiro ; a virgem, se é orgulhosa, também segue ; mas nenhum dos dois O segue por onde quer que Ele vá. O primeiro não pode atingir a pureza do Cordeiro, porque Ele é sem mancha ; a última não se digna descer à Sua mansidão, que cala não diante do tosquiador, mas fica mudo diante do próprio assassino. Ainda assim, o pecador que segue em humildade escolheu um caminho mais salvífico do que o homem orgulhoso que segue em virgindade ; porque o humilde presta satisfação, e é limpo de sua impureza, mas a castidade do orgulhoso é manchada pela sua soberba.

São Bernardo - Primeiro Sermão sobre a Assunção de Nossa Senhora

São Bernardo (1091-1153), monge cisterciense e Doutor da Igreja
1º Sermão para a Assunção
 (a partir da trad. Pain de Cîteaux 32, p. 63 rev.)


 “Em Cristo, todos serão vivificados, cada qual na sua ordem” (1Cor 15, 22-23) Hoje a Virgem Maria sobe, gloriosa, ao céu. É o cúmulo de alegria dos anjos e dos santos. Com efeito, se uma simples palavra sua de saudação fez exultar o menino que ainda estava no seio materno (Lc 1, 44), qual não terá sido sido o regozijo dos anjos e dos santos, quando puderam ouvir a sua voz, ver o seu rosto, e gozar da sua presença abençoada! E para nós, irmãos bem-amados, que festa a da sua assunção gloriosa, que motivo de alegria e que fonte de júbilo temos hoje! A presença de Maria ilumina o mundo inteiro, a tal ponto resplandece o céu, irradiado pelo brilho desta Virgem plenamente santa. Por conseguinte, é justificadamente que ecoa nos céus a ação de graças e o louvor.


Ora [...], na medida em que o céu exulta da presença de Maria, não seria razoável que o nosso mundo chorasse a sua ausência? Mas não, não nos lastimemos, porque não temos aqui cidade permanente (Heb 13, 14), antes procuramos aquela aonde a Virgem Maria chegou hoje. Se já estamos inscritos no número de habitantes dessa cidade, convém que hoje nos lembremos dela [...], compartilhemos a sua alegria, participemos nesta alegria que hoje deleita a cidade de Deus; uma alegria que depois se espalha como o orvalho sobre a nossa terra. Sim, Ela precedeu-nos, a nossa Rainha, precedeu-nos e foi recebida com tanta glória que nós, seus humildes servos, podemos seguir a nossa Rainha com toda confiança gritando [com a Esposa do Cântico dos Cânticos]:


“Arrasta-me atrás de ti. Corramos ao odor dos teus perfumes!”(Ct 1, 3-4) Viajantes sobre a terra, enviamos à frente a nossa advogada [...], a Mãe de misericórdia, para defender eficazmente a nossa salvação.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Por que os bons sofrem?

Rycerz Niepokalanej, II-1924, ps. 19-20

Anteontem, o senhor N.N. me pôs a seguinte pergunta:
“Normalmente, os bons sofrem, enquanto que, com frequência, os maus levam vida larga. Onde está a justiça?”.

São Maximiliano Kolbe 


“Deus é infinitamente justo, verdade?”.

“Sim, claro”.

“De outro modo não seria Deus. Por conseguinte, Ele tem que recompensar toda obra boa e castigar toda obra má. Nenhuma obra, nenhuma palavra, nenhum pensamento escapará do seu juízo.

Atualmente, existe no mundo uma só pessoa, ainda que seja a pior de todas, que nunca faça algo bom?”.

“Claro que não”.

“Pois bem, ao menos alguma vez cada um cumpre bem seu próprio dever, ou mostra compaixão para com o próximo, ou consegue realizar alguma outra coisa boa. Se este homem viveu tão mal que, depois de sua morte, merece o inferno, quando Deus o recompensará por aquele pouco de bem que fez?…
Quando?…”.

“No outro mundo”.

“Ali, porém, o espera só o inferno”.

“Então neste…”.

“Ademais, existe acaso uma só pessoa, mesmo que seja a melhor de todas, que não tenha feito algum mal?”.

“Tampouco existe uma pessoa assim”.

“E é a verdade, já que ‘o justo cai sete vezes’ [Pr 24,16] ao dia. Por isso, se Deus quer abreviar-lhe o Purgatório ou conceder-lhe de imediato o Paraíso, quando terá lugar o ‘saldo da conta’?”.

“Ah, deve ser precisamente assim!…”.

“Deus manifesta um amor particular precisamente àqueles que castiga já neste mundo, pois no Purgatório só há um longo e pesado castigo, enquanto que, se aceitamos voluntariamente as cruzes neste mundo, mereceremos uma glória ainda maior no Paraíso. Daqui também o ditado: Deus ama àquele que faz sofrer”.

Não se deve invejar, pois, àquelas pessoas más que desfrutam de uma vida feliz; estes, antes, deveriam temer que isso possa ser já a recompensa pelo pouco de bem que realizaram.

M.K.


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Pio XII, "pai solícito e providente"

Em carta ao vigário-geral de Roma, Francisco reconhece o heroísmo do venerável Pio XII, que conduziu a Igreja durante os horrores da Segunda Guerra Mundial
 
Depois do reconhecimento das virtudes heroicas do Papa Pio XII, em 2009, por iniciativa de Bento XVI, foi a vez do Papa Francisco demonstrar seu apreço pelo grande Pastor Angelicus, que conduziu a Igreja durante os terríveis anos da Segunda Guerra Mundial. No último mês, em carta enviada ao vigário-geral da diocese de Roma, o cardeal Agostino Vallini, o Santo Padre expressou sua gratidão "a quem foi pai solícito e providente" 01.
  
No dia 19 de julho de 1943, isto é, há 70 anos, a cidade de Roma foi bombardeada pelos Aliados, apesar dos insistentes pedidos de Pio XII para que a cidade eterna fosse poupada dos horrores da guerra. O conhecido bairro São Lourenço foi devastado: uma igreja tradicional dedicada ao mártir foi destruída e inúmeras vidas foram ceifadas. Sensível ao sofrimento dos moradores de Roma e incansável em seu esforço pela conciliação em tempos de conflito, o Papa Pacelli visitou o mesmo bairro, pouco tempo depois, para confortar o povo romano e clamar por paz.

O Papa Francisco recordou o incidente e louvou o "venerável Pio XII, que, naquelas horas terríveis, ficou próximo de seus concidadãos tão duramente golpeados". "O Papa Pacelli – escreveu – não hesitou em correr, imediatamente e sem escolta, às ruínas ainda fumegantes do bairro de São Lourenço, a fim de socorrer e consolar a população consternada. Também naquela ocasião se mostrou Pastor com premência, que está no meio de seu próprio rebanho, especialmente na hora da prova, pronto a compartilhar os sofrimentos de sua gente."

Francisco também lembrou a grande obra de caridade realizada pela Igreja durante a denominada "grande guerra", salvando inúmeras vidas e aliviando as almas. "O gesto do Papa Pacelli é o sinal da obra incessante da Santa Sé e da Igreja em suas diversas articulações, paróquias, institutos religiosos, residências, para dar alívio à população. Muitos bispos, sacerdotes religiosos e religiosas em Roma e em toda a Itália foram como o Bom Samaritano da parábola evangélica, inclinado ao irmão na dor, para ajudar-lhe e dar-lhe conforto e esperança."

De fato, é conhecida a ajuda que a Igreja, por meio do venerável Pio XII, concedeu às vítimas da guerra, especialmente aos judeus. São inúmeros os testemunhos de personalidades judias que abonam a ação do Pastor Angelicus. O diplomata israelense Pinchas Lapide esclarece que,"durante o pontificado de Pio XII, a Igreja católica foi o instrumento de salvação de, pelo menos, 700 000, mas talvez também de 860 000 judeus que deviam morrer às mãos dos nazis". Um judeu, que ficou quatro meses escondido nas catacumbas de São Calisto, em Roma, assegurou que "a Igreja católica foi para todos nós um seguro lugar de refúgio". "Quando um judeu encontrava um padre no caminho sabia que podia tranquilamente pedir-lhe refúgio e assistência".


Também é sabido, por exemplo, que foram muitos os conventos e mosteiros em Roma a abrirem suas portas para o abrigo de refugiados. Nada disto seria possível sem "instruções precisas, orais ou escritas, provenientes de Roma", garante o jornalista Andrea Tornielli, autor do livro "Pio XII, o Papa dos judeus". Tornielli escreve ainda que "só a necessidade de criar um bode expiatório, para cima de cujas costas se atirem as muitas culpas de quem não mexeu um dedo para ajudar os judeus, pode justificar que esta extraordinária ajuda humanitária seja esquecida"02.

Pio XII foi Pontífice da Santa Igreja de 1939 até o ano de 1958, quando morreu. Escreveu inúmeros discursos, encíclicas e radiomensagens, tendo abordado neles uma infinidade de questões, como o evolucionismo, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e a Liturgia católica. Grande parte deste tesouro pode ser consultada no site da Santa Sé03.


Referências

01. Messaggio del Santo Padre Francesco al Cardinale Vicario Agostino Vallini, nel LXX anniversario del bombardamento di Roma

02. Andrea Tornielli, Pio XII, il Papa degli ebrei. Trad. António Maia da Rocha. Porto: Ed. Civilização.

0.3 Pius PP. XII - Eugenio Pacelli


O Papa Francisco poderia declarar santo a Pio XII

VATICANO,(ACI/EWTN Noticias).- O Papa Francisco estaria considerando proclamar santo ao Papa Pio XII, o grande Pontífice que sentou as bases do Concílio Vaticano II e que salvou a 800 mil judeus da morte. O Santo Padre tomaria esta decisão de modo similar como fez com o Papa João XXIII, a quem vai canonizar sem a mediação de um milagre como normalmente se requer nos procedimentos da Igreja.

Papa Pio XII
Uma fonte autorizada da Congregação para as Causas dos Santos no Vaticano, que pediu permanecer no anonimato, disse ao Grupo ACI em 25 de julho que "assim como o Papa Francisco decidiu a canonização de João XXIII, assim também está considerando fazer o mesmo com Pio XII".

Em 19 de dezembro de 2009 o então Papa Bento XVI aprovou o decreto das virtudes heroicas do Papa Pacelli, quer dizer o documento que demonstra que uma pessoa viveu a fé, a esperança e a caridade (o amor) em grau heroico. De acordo ao procedimento regular, agora é necessário um milagre para sua beatificação.

Mas se o Papa Francisco decide seguir adiante sem um milagre, poderia "inclusive canonizá-lo (a Pio XII) com a fórmula de scientia certa (certeza de conhecimento) e, portanto, inclusive passando por cima da beatificação", indicou a fonte.

"Somente o Papa pode fazer isso e o fará se assim o desejar".


O Papa Francisco está muito interessado em Pio XII porque "considera-o um grande, da mesma forma que João XXIII, embora seja por distintas razões", explicou a fonte ao Grupo ACI.