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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Santa Sé divulga título e quais vestimentas Bento XVI usará após a sua renúncia


VATICANO, 26 Fev. 13 / 10:39 am (ACI/EWTN Noticias).- Nesta terça-feira, 26, o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, realizou na uma coletiva de imprensa, esclarecendo algumas das perguntas dos jornalistas sobre pontos específicos da vida do Papa após sua renúncia. Uma delas é sobre como Bento XVI será chamado a partir do dia 28 de fevereiro. Segundo o porta-voz Vaticano, ele continuará a chamar-se Sua Santidade Bento XVI, mas foi escolhido também o título Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito.

Sobre as vestes: branca, simples, sem mantelete. Não são mais previstas os sapatos vermelhos. “Parece que o Papa ficou muito satisfeito com os sapatos que lhe presentearam no México, em Leon”, afrmou o Pe. Lombardi.

Bento XVI já não usará o anel do pescador, o qual o Camerlengo, com o decano, darão o fim que a Constituição prevê.

Papa Bento XVI atualmente recebe centenas de cartas de autoridades de todo o mundo dando-lhe adeus.

 "Ele colocou seu secretário pessoal e prefeito da Casa Pontifícia, o arcebispo Georg Gänswein, encarregado de lê-las e passar as mensagens para o papa", disse o padre. Lombardi.

Haverá também um momento altamente simbólico para assinalar o fim do ministério do Papa. Os membros da guarda suíca, encarregada de proteger o Santo Padre, estarão de pé às portas de Castel Gandolfo e às 20:00h deixarão seus postos.

"Eles simbolicamente protegem o Papa, de modo que já não serão necessários. Mas não se preocupem, a polícia do Vaticano seguirá protegendo os jardins vaticanos e seus arredores ", explicou o Pe. Federico.
O Papa se prepara em clima de oração para a sua transferência a Castel Gandolfo, disse ainda o Pe. Lombardi.

Para a Audiência Geral desta quarta-feira, a última do pontificado de Bento XVI, foram distribuídos 50 mil bilhetes. O Sistema será o mesmo: um amplo giro com o papamóvel. Não terá lugar o “beija-mão” – este será feito após a Audiência Geral, na Sala Clementina, para algumas autoridades presentes.

Quinta-feira, às 11h, haverá uma saudação da parte dos Cardeais, e um discurso do Decano do colégio cardinalício, Cardeal Angelo Sodano, no início e às 16h55 (hora local) a partida para Castel Gandolfo.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Último ângelus de Bento XVI: servirei a Igreja com o mesmo amor e dedicação de sempre



VATICANO, 24 Fev. 13 / 09:42 am (ACI).- No marco do segundo domingo da Quaresma, e em seu último ângelus como Sumo Pontífice Bento XVI fez um chamado à primazia da oração na vida cristã, e partilhou que, agora, mediante uma vida de oração “não abandono a Igreja, pelo contrário. Continuarei a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor”.

A Praça S. Pedro, informou a Rádio Vaticano, estava repleta neste domingo para este evento histórico. Faixas e cartazes em várias línguas demonstraram o carinho dos fiéis. A Praça se enchia desde as primeiras horas da manhã aos poucos foi sendo tomada por religiosas, sacerdotes, turistas, mas principalmente por famílias com crianças e muitos jovens.

Ao meio-dia, assim que a cortina da janela de seus aposentos se abriu, Bento XVI foi aclamado pela multidão.

Em sua catequese o Papa iniciou a meditação ressaltando que “no segundo domingo da Quaresma, a liturgia nos apresenta sempre o Evangelho da Transfiguração do Senhor”. 

“O evangelista Lucas coloca especial atenção para o fato de que Jesus foi transfigurado enquanto orava: a sua é uma profunda experiência de relacionamento com o Pai durante uma espécie de retiro espiritual que Jesus vive em uma alta montanha na companhia de Pedro, Tiago e João.

“O Senhor, que pouco antes havia predito sua morte e ressurreição (9:22), oferece a seus discípulos antes da sua glória. E mesmo na Transfiguração, como no batismo, ouvimos a voz do Pai Celestial, "Este é o meu Filho, o Eleito ouvi-lo" (9:35). A presença de Moisés e Elias, representando a Lei e os Profetas da Antiga Aliança, é muito significativa: toda a história da Aliança está focada Nele, o Cristo, que faz um "êxodo" novo (9:31) , não para a terra prometida, como no tempo de Moisés, mas para o céu”, explicitou o Papa. 

Meditando sobre a atitude do Apóstolo Pedro que queria continuar no Tabor, prolongando a experiência de comunhão com o Senhor, o Papa afirmou que da Transfiguração do Senhor “podemos tirar um ensinamento muito importante. Primeiro, o primado da oração, sem a qual todo o trabalho de apostolado e de caridade é reduzido ao ativismo. Na Quaresma, aprendemos a dar bom tempo para a oração, pessoal e comunitária, o que dá ânimo à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é isolar-se do mundo e suas contradições, como no Tabor desejava Pedro, mas a oração reconduz ao caminho, à ação. "A vida cristã - Eu escrevi na Mensagem para a Quaresma - consiste em uma subida contínua da montanha para encontrar-se com Deus, antes de cair de volta trazendo o amor e o poder dele derivado, a fim de servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus "

Partilhando sobre seu retiro a uma vida dedicada à oração e reflexão, que terá início após sua renúncia que será efetiva dentro de 3 dias, o Papa afirmou que “o Senhor me chama a "subir o monte”, para me dedicar ainda mais à oração e à meditação. Mas isto não significa abandonar a Igreja, ao contrário, se Deus me pede isso é precisamente para que eu possa continuar a servi-la com a mesma dedicação e o mesmo amor com o qual eu fiz até agora, mas de um modo mais adequado à minha idade e às minhas forças”.

Na saudação em várias línguas, Bento XVI falou também em português: “Queridos peregrinos de língua portuguesa que viestes rezar comigo o Angelus: obrigado pela vossa presença e todas as manifestações de afeto e solidariedade, em particular pelas orações com que me estais acompanhando nestes dias. Que o bom Deus vos cumule de todas as bênçãos”.


Perita brasileira afirma: efeito contraceptivo e abortivo estão igualmente presentes na pílula do dia seguinte



 Dra. Renata Gusson Martins

SÃO PAULO, 23 Fev. 13 / 10:51 am (ACI).- Após a aprovação por parte dos bispos alemães do uso da pílula do dia seguinte em hospitais católicos no caso de estupro, peritos de várias partes do mundo advertiram para o alto potencial abortivo do fármaco. No Brasil, a Dra. Renata Gusson Martins, Farmacêutica-Bioquímica, especialista em Biologia Molecular explica que diante da dificuldade de saber o exato momento da ovulação o uso da pílula é como uma “roleta russa”, nem os médicos, nem as mulheres podem ter certeza absoluta que esta não atuou como um abortivo.

“O levonorgestrel, princípio ativo da “pílula do dia seguinte”, é uma progesterona sintética. Por ser um hormônio, seu mecanismo de ação é complexo e interfere em diversas funções fisiológicas. No sistema reprodutor, pode impedir a ovulação, provocar o espessamento do muco cervical, inviabilizando a movimentação dos espermatozoides e, finalmente, provocar o atrofiamento do endométrio”, explicou a Dra. Renata, que também atua no movimento pró-vida no Brasil. 

Segundo perita brasileira, que também possui mestrado em Ciências pela Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, “os fabricantes da “pílula” afirmam que ela garante uma contracepção se tomada até 72 horas após a relação sexual. Entretanto, ao lermos as bulas de tais medicamentos, nos deparamos com uma insistente afirmação de que eles não são abortivos. Além disso, diversos artigos científicos reforçam que “não se tem evidências de que o levonorgestrel atue no endométrio”. Diante dessa afirmação, foi-se criando um consenso de que a “pílula do dia seguinte” teria somente um efeito contraceptivo, mas não abortivo”.

“Porém, contrariando essa posição, podemos questionar: se uma mulher mantiver relação sexual no dia de sua ovulação, a fecundação pode ocorrer poucos minutos após a relação. Ademais, os fabricantes garantem, como vimos, que a “pílula” impede a gravidez se tomada até 72 horas após o coito. Portanto, como afirmar que os efeitos do levonorgestrel são apenas contraceptivos se a gravidez já ocorreu? Diante de um embrião humano formado, a única maneira de impedir a continuação da gravidez é o aborto. Portanto, seguindo esta lógica, podemos afirmar que a “pílula” é sim abortiva”, asseverou.

“Temos aqui um problema bastante sério: o medicamento que pode impedir a ovulação é o mesmo que pode impedir a implantação. O efeito contraceptivo e abortivo estão igualmente presentes. Se ela for tomada antes da fecundação, atuará como contraceptivo. Se for tomada depois, atuará como abortivo.  Na prática, contudo, é improvável saber se já ocorreu ou não a fecundação”, “A questão que surge é muito relevante: o uso da “pílula do dia seguinte” é moralmente correto?” Segundo a Dra. Gusson a resposta é “não”. 

“Dizer o contrário seria o mesmo que afirmar que não há problema nenhum em brincar de roleta-russa”, concluiu. 

Bento XVI altera os rituais para a posse do novo Papa. O retorno do juramento de fidelidade por todos os Cardeais.

Por Catholic News Service | Tradução: Fratres in Unum.com – O Papa Bento XVI ordenou diversas alterações para as Missas e liturgias que marcarão a inauguração do pontificado do próximo papa. 

Os ritos e gestos que não são estritamente sacramentais ocorrerão antes de uma Missa ou em uma cerimônia que não envolva Missa, disse o Monsenhor Guido Marini, mestre de cerimônias litúrgicas papais, ao jornal do Vaticano, em 22 de fevereiro.

Uma das mudanças mais visíveis, segundo ele, seria a restauração do “ato público de obediência”, em que cada cardeal presente na Missa inaugural do papa se apresenta e promete obediência.

Quando o Papa Bento celebrou a sua Missa inaugural, em 2005, 12 pessoas foram escolhidas para representar todos os católicos: três cardeais, um bispo, um padre diocesano, um diácono transitório, um religioso, uma religiosa, um casal, bem como um jovem e uma jovem recém-crismados.

Marini disse que o Papa Bento aprovou pessoalmente as alterações no dia 18 de fevereiro; elas incluem a oferta de uma escolha mais ampla de orações tradicionais de Missas em polifonia e canto, em vez do novo repertório musical composto para o livro de 2005.

Após ter experimentado pessoalmente os ritos litúrgicos redigidos pelo predecessor de Monsenhor Marini – e aprovados pelo Papa Bento imediatamente após a sua eleição – o papa sugeriu “algumas alterações com o objetivo de melhorar o texto” dos ritos para o início do pontificado, formalmente conhecido como o “Ordo Rituum pro Ministerii Petrini Initio Romae Episcopi.”

As alterações, disse o Monsenhor Marini, “seguem na linha das modificações feitas nas liturgias papais” ao longo do curso do pontificado do Papa Bento.

A edição anterior do caderno de rituais também pedia que o novo papa visitasse as basílicas de São Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior dentro de duas ou três semanas de sua posse.
 
O novo livro, disse Monsenhor Marini, deixa essa incumbência para que o novo papa decida “quando essa visita seria mais oportuna, mesmo com alguma distância da sua eleição, e sob a maneira que ele julgar melhor, seja ela uma Missa, uma celebração da Liturgia das Horas ou um ato litúrgico particular” como aquele que se encontra no livro de rituais de 2005.

Por outro lado, em uma resposta de e-mail a indagações, Monsenhor Marini disse ao Catholic News Service  que nenhuma modificação significativa havia sido feita ao “Ordo rituum conclavis,” o livro de rituais, Missas e orações que acompanham o conclave para eleger um novo papa.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A Igreja de Cristo ergue-se na firmeza da fé do apóstolo Pedro


Dos Sermões de São Leão Magno, papa
(Sermo 4 de Natali ipsius, 2-3: PL 54,149-151)    (Séc.V)

Dentre todos os homens do mundo, Pedro foi o único escolhido para estar à frente de todos os povos chamados à fé, de todos os apóstolos e de todos os padres da Igreja. Embora no povo de Deus haja muitos sacerdotes e pastores, na verdade, Pedro é o verdadeiro guia de todos aqueles que têm Cristo como chefe supremo. Deus dignou-se conceder a este homem, caríssimos filhos, uma grande e admirável participação no seu poder. E se ele quis que os outros chefes da Igreja tivessem com Pedro algo em comum, foi por intermédio do mesmo Pedro que isso lhes foi concedido. 
 
A todos os apóstolos o Senhor pergunta qual a opinião que os homens têm a seu respeito; e a resposta de todos revela de modo unânime as hesitações da ignorância humana.

Mas, quando procura saber o pensamento dos discípulos, o primeiro a reconhecer o Senhor é o primeiro na dignidade apostólica. Tendo ele dito: Tu és Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus lhe respondeu: Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu (Mt 16,16-17). Quer dizer, és feliz, porque o meu Pai te ensinou, e a opinião humana não te iludiu, mas a inspiração do céu te instruiu; não foi um ser humano que me revelou a ti, mas sim aquele de quem sou o Filho unigênito.

Por isso eu te digo, acrescentou, como o Pai te manifestou a minha divindade, também eu te revelo a tua dignidade: Tu és Pedro (Mt 16,18). Isto significa que eu sou a pedra inquebrantável, a pedra principal que de dois povos faço um só (cf. Ef 2,20.14), o fundamento sobre o qual ninguém pode colocar outro. Todavia, tu também és pedra, porque és solidário com a minha força. Desse modo, o poder, que me é próprio por prerrogativa pessoal, te será dado pela participação comigo.
 
E sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la (Mt 16,18). Sobre esta fortaleza, construirei um templo eterno. A minha Igreja destinada a elevar-se até ao céu deverá apoiar-se sobre a solidez da fé de Pedro.

O poder do inferno não impedirá esse testemunho, os grilhões da morte não o prenderão; porque essa palavra é palavra de vida. E assim como conduz aos céus os que a proclamam, também precipita no inferno os que a negam.

Por isso, foi dito a São Pedro: Eu te darei as chaves do Reino dos céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus (Mt 16,19).

Na verdade, o direito de exercer esse poder passou também para os outros apóstolos, e o dispositivo desse decreto atingiu todos os príncipes da Igreja. Mas não é sem razão que é confiado a um só o que é comunicado a todos. O poder é dado a Pedro de modo singular, porque a sua dignidade é superior à de todos os que governam a Igreja.

III Parte - O Orgulho e os vícios anexos


 III. A MALÍCIA DO ORGULHO

A Vida Espiritual explicada e comentada 
Adolph Tanquered
  

            Para bem se julgar desta malícia, pode-se considerar o orgulho em si mesmo ou nos seus efeitos.
Cena do filme O Retrato de Dorian Gray

            832. 1.º - Em si mesmo: A) O orgulho propriamente dito, o que consciente e voluntariamente usurpa, ainda mesmo implicitamente, os direitos de Deus, é pecado grave, o mais grave até dos pecados, diz Santo Tomás, porque não se quer submeter ao supremo domínio de Deus. 
            a) Assim, querer ser independente, recusar obediência a Deus ou aos Seus representantes legítimos em matéria grave, é pecado mortal, porque é revoltar-se contra Deus, nosso legítimo soberano.
            b) É falta grave também atribuir-se a si mesmo o que vem manifestamente de Deus, sobretudo os dons da graça, porque é negar implicitamente que Deus seja o primeiro princípio de todo o bem que há em nós. Muitos contudo o fazem, dizendo, por exemplo: eu sou filho das minhas obras.
            c) Peca ainda gravemente quem quer operar para si, com exclusão de Deus, porque isso equivale a negar-Lhe o direito de ser nosso último fim.

            833. B) O orgulho atenuado que, conquanto reconheça a Deus como primeiro princípio e último fim, Lhe não dá tudo o que Lhe é devido, antes Lhe rouba implicitamente uma parte da Sua glória, é falta venial bem caracterizada. Tal é o caso dos que se gloriam das suas boas qualidades e virtudes, como se estivessem persuadidos que tudo isso lhes pertence como próprio; ou então o dos que são presunçosos, vaidosos, ambiciosos, sem contudo fazerem nada que seja contrário a uma lei divina ou humana em matéria grave. Podem contudo estes pecados degenerar em mortais, impelindo-nos a atos gravemente repreensíveis. Assim a vaidade, que em si não passa de falta venial, torna-se grave, quando leva a contrair dívidas que se não poderão pagar, ou a excitar-nos outros amor desordenado. É preciso, pois, examinar também o orgulho nos seus resultados.

            834. 2.º- Em seus efeitos: A) O orgulho que se não reprime chega por vezes a efeitos desastrosos. Quantas guerras não foram ateadas pelo orgulho dos governantes e às vezes dos mesmos povos? Sem ir tão longe, quantas divisões nas famílias, quantos ódios entre particulares se devem atribuir a este vício? Os Santos Padres ensinam com razão que ele é a raiz de todos os outros vícios, e que ademais corrompe muitos atos virtuosos, porque nos leva a praticá-los com intenção egoísta.

            835. B) Encarando esses efeitos pelo lado da perfeição, que é o que nos interessa, pode-se dizer que o orgulho é o seu maior inimigo, porque produz em nossa alma uma lastimosa esterilidade e é fonte de numerosos pecados.
            a) Priva-nos, efetivamente, de muitas graças e merecimentos: 
            1) De muitas graças, porque Deus, que dá com liberalidade a Sua graça aos humildes, recusa-a aos soberbos: Deus superbis resistit, humilibus autem dat gratiam[1]. Pesemos bem estas palavras, Deus resiste aos soberbos, porque diz M. Olier[2], como o soberbo ataca diretamente e aborrece a soberania divina, Deus lhe resiste às pretensões insolentes e horríveis “e, como se quer conservar no que é, abate e destrói o que se ele contra Si”.
            2) De muitos merecimentos: uma das condições essenciais do mérito é a pureza de intenção; ora o orgulhoso opera para si, ou para agradar aos homens, em lugar de trabalhar para Deus e assim merece a censura dirigida aos Fariseus, que faziam as suas boas com ostentação, para serem vistos dos homens, e, por esta razão, não podiam esperar recompensa de Deus “alioquin mercedem non habebitis apud Patrem vestrum qui in caelis est ... amen, amen, dico vobis, receperunt mercedem suam”.[3]

            836. b) É, além disso, fonte de numerosas faltas: 
            1) faltas pessoais: por presunção, expõe-se um ao perigo em que sucumbe: por orgulho, não quer ceder instantemente as graças de que precisa, e cai; depois vem o desalento correndo até perigo de dissimular os pecados na confissão;
            2) faltas contra o próximo: por orgulho, não se quer ceder, ate mesmo quando se não tem razão, empregam-se a picuinhas mordazes na conversação, travam-se discussões ásperas e violentas que acarretam dissensões e discórdias; daí, palavras amargas, injustas até, contra os rivais, para os abater, críticas acerbas contra os superiores, recusa de obedecer às suas ordens.

            837. c) É, enfim, uma causa de infelicidade para quem cede habitualmente ao orgulho: como o orgulhoso quer ser grande em tudo e dominar os seus semelhantes, para ele deixa de haver mais paz e repouso. E na verdade, como por um lado não pode sossegar, enquanto não consegue triunfar de seus rivais, e por outro jamais o consegue completamente, vive perturbado, agitado, infeliz. Importa, pois buscar remédio para este vício tão perigoso.

[1] Tg., 4,6.
[2] Introduction, ch. VI. I. re Sect.
[3] Mt., 6,12.

Pontifícia Academia para a Vida: Jamais demos aprovação à pílula do dia seguinte


VATICANO, 21 Fev. 13 / 11:28 am (ACI).- A Pontifícia Academia para a Vida (PAV) no Vaticano precisou que é "falsa e enganosa" a informação que circula há alguns dias sobre a suposta aprovação por parte deste dicastério ou do Cardeal alemão Joachim Meisner da pílula do dia seguinte –que tem um potencial efeito abortivo– para que seja usado em hospitais católicos da Alemanha em casos de estupro.

O dicastério divulgou esta informação em um correio eletrônico enviado ao grupo ACI no último 19 de fevereiro, escrito sob as indicações do presidente da PAV, Dom Ignacio Carrasco da Paula.

No texto que leva a assinatura do Dr. Gaetano Torlone, membro da PAV, destaca-se que "o Cardeal (Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia) em sua declaração afirma simplesmente que na assistência às mulheres que sofreram um estupro o processo é complexo e vai mais além do aspecto farmacológico".

Nestes casos, precisa o correio eletrônico de Torlone, "é lícito usar fármacos anticoncepcionais, mas não é nunca lícito usar fármacos abortivos porque nunca é lícito assassinar a um ser humano".

O texto assinala que, em sua declaração, "a Cardeal fala de fármaco, de qualquer fármaco que impeça a concepção e não da pílula do dia seguinte".

O Dr. Torlone explicou ainda que "naturalmente a vida humana começa com a concepção (ou fecundação). Isto significa que qualquer ação voluntária que produza a expulsão do nascituro, antes que tenha alcançado a capacidade de sobreviver fora do ventre materno, representa um aborto pois produz a morte do nascituro".

"Então –precisa Torlone– impedir voluntariamente a nidação do embrião é uma ação abortiva, um pecado muito grave".

O membro da PAV disse ademais que "não conhecemos as declarações do Cardeal Meisner aos meios locais que, em qualquer caso, não têm particular relevância para a Pontifícia Academia para a Vida. Conhecemo cardeal, sua fé, sua fidelidade à Igreja, sua abnegação, seu serviço à diocese que lhe foi confiada pelo Senhor".

As mensagens da PAV foram enviadas ao grupo ACI logo depois de uma nota de esclarecimento explicando detalhadamente que nem o Papa Bento XVI nem seu secretário, Dom Georg Ganswein deram sua aprovação para o uso da pílula do dia seguinte nos hospitais católicos da Alemanha em casos de estupro, como afirmava erroneamente uma nota da agência EFE difundida por diversos meios.

A pílula do dia seguinte tem três mecanismos: impede a ovulação (anovulatório), espessa a mucosidade cervical (anticoncepcional) e impede a nidação do óvulo já fecundado (o que a torna um potencial abortivo).

Estes mecanismos são informados pela Food and Drug Administration (FDA), o organismo governamental que garante a salubridade dos mantimentos e dos remédios nos Estados Unidos.

O Papa Bento XVI não aprovou a pílula do dia seguinte


REDAÇÃO CENTRAL, 19 Fev. 13 / 02:44 pm (ACI/EWTN Noticias).- Logo depois da difusão de uma nota da agência EFE na que se destaca que o Papa Bento XVI tinha aprovado a pílula do dia seguinte na Alemanha, o secretário do Santo Padre, o Arcebispo Georg Ganswein, negou taxativamente esta informação e precisou que nem ele nem o Pontífice deram consentimento para o uso do fármaco que é potencialmente abortivo.

Na terça-feira 12 de fevereiro a agência de notícias EFE escreveu um artigo titulado "Bento XVI autorizou o uso de ´pílula do dia seguinte´ na Alemanha" no qual afirma que o Papa havia autorizado "nos hospitais católicos alemães o uso da pílula anticoncepcional de urgência, conhecida como ‘pílula do dia seguinte’, em mulheres vítimas de estupro, devido ao escândalo em torno ao caso de uma jovem que não foi atendida em duas clínicas de Colônia após sofrer abusos sexuais".

A nota indicava que a informação foi divulgada pelo “Arcebispo de Colônia, o Cardeal Joachim Meissner, em declarações ao jornal Kölner Stadt Anzeiger, nas que comenta que sua recente decisão de autorizar o uso desse anticoncepcional foi consensuado com a Congregação para a Defesa da Fé e a Academia Papal".

A nota de EFE apresentava ademais o seguinte diálogo entre o Cardeal e Dom Georg Gänswein. "Ele me disse: ‘o papa sabe. Tudo está em ordem’, afirma Meisner, considerado um religioso conservador, quem no dia 31 de janeiro anunciou inesperadamente que a Igreja Católica autorizava o uso da ‘pílula do dia seguinte".

Por sua parte, o professor Manfred Spieker, amigo do Papa, do Cardeal Meisner e membro do Pontifício Conselho Justiça e Paz, informou que no dia 14 de fevereiro às 11:06 p.m. recebeu um correio eletrônico de Dom Ganswein no qual o secretário do Pontífice nega categoricamente que o diálogo ao qual se refere a agência EFE tenha ocorrido.

Nesse correio eletrônico Mons. Ganswein nega ainda que "tenha existido uma chamada Telefônica entre o Cardeal Meisner e o Papa ou ele mesmo, nem uma aprovação escrita ou oral" da pílula do dia seguinte.

O secretário do Papa reconhece que "a declaração (do Cardeal Meisner) é problemática e que será necessário esclarecer a situação em Roma".

Spieker explica que tampouco é certo que a Pontifícia Academia para a Vida (que EFE chama erroneamente "Academia Papal") ou que a Congregação para a Doutrina da Fé (que EFE denomina "Congregação para a Defesa da Fé") tenham aprovado a declaração do Cardeal Meisner.

Dois dias antes, em 12 de fevereiro, a arquidiocese de Colônia emitiu um comunicado destacando que o Papa não viu nem aprovou a declaração do Cardeal Meisner sobre a pílula do dia seguinte.

Em 31 de janeiro o Arcebispo de Colônia, Cardeal Joachim Meisner, disse em uma declaração que "se um remédio que evite a concepção for usado logo depois de um estupro com o propósito de evitar a fertilização, isso em minha opinião é aceitável".

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

II Parte - O Orgulho e os vícios anexos


OS DEFEITOS QUE NASCEM DO ORGULHO


A Vida Espiritual explicada e comentada
Adolph Tanquered

            Os principais são a presunção, a ambição e a vanglória.

            827. 1.º- A presunção é o desejo e a esperança desordenada de querer fazer coisas além das próprias forças. Nasce de ter o homem opinião demasiado subida de si mesmo, das suas faculdades naturais da sua ciência, forças, virtudes.

            a) Sob o aspecto intelectual, crê-se o presunçoso capaz de discutir e resolver os mais intrincados problemas, as questões mais árduas ou ao menos, de empreender estudos em desproporção com os seus talentos. - Persuade-se facilmente que tem muita discrição e sabedoria, e, em vez de saber duvidar, decide com entono as questões mais controversas.
            b) Sob o aspecto moral, imagina que tem bastante luz para se guiar e que não há grande utilidade em consultar um diretor. - Persuade-se que, apesar das faltas passadas, não tem que temer recaídas, e lança-se imprudentemente nas ocasiões de pecado, em que sucumbe; daí desânimos e despeitos que são muitas vezes causa de novas quedas.
            c) Sob o aspecto espiritual, é mais que medíocre o seu gosto das virtudes ocultas e crucificantes, prefere as virtudes brilhantes; e, em vez de construir sobre o fundamento sólido da humildade, afaga sonhos de grandeza de alma, força de caráter, magnanimidade, zelo apostólico, triunfos imaginários com que a fantasia doira o futuro. Logo, porém, às primeiras tentações graves se percebe quão fraca e vacilante é ainda a vontade. Às vezes chegam-se até a menosprezar as orações comuns e as que se acoimam de pequenas práticas de piedade; tem aspirações talvez a graças extraordinárias, quem ainda está nos princípios da vida espiritual.

            828. 2.° Esta presunção, junta ao orgulho, gera a ambição, isto é, o amor desordenado das honras, das dignidades, da autoridade sobre os outros. Como presume demasiado das próprias forças e se julga superior aos demais, quer o ambicioso dominá-los, governá-los, impor-lhes as suas próprias idéias.
            A desordem da ambição pode-se manifestar de três maneiras, diz Santo Tomás[1]:

            1) buscando as honras que se não merecem e ultrapassam os nossos meios;
            2) buscando-as para si, para a própria glória, e não para a glória de Deus;
            3) parando no gozo das honras por si mesmas, sem as fazer servir ao bem dos outros, em contrário da ordem estabelecida por Deus, que exige que os superiores trabalhem pelo bem dos inferiores.
            Esta ambição estende-se a todos os campos:

       1) ao campo político, em que o ambicioso aspira a governar os outros, e muitas vezes à custa de quantas baixezas, de quantos compromissos, de quantas covardias que cometem, para obterem os votos dos eleitores;
          2) ao campo intelectual, procurando com obstinação impôr aos outros as próprias idéias, até mesmo nas questões livremente controvertidas;
         3) à vida civil, buscando com avidez os primeiros lugares, as funções de mais brilho, as homenagens da multidão;
        4) e até mesmo a vida eclesiástica; pois, como diz Bossuet, “quantas precauções se houveram de tomar, para impedir nas eleições, até mesmo eclesiásticas e religiosas, a ambição, as intrigas, os enredos, as solicitações secretas, as promessas e os manejos mais criminosos, os pactos simoníacos e os outros desmandos tão comuns nesta matéria, e Deus sabe se com tudo isso se terá conseguido pouco mais que encobrir ou paliar esses vícios, longe de se haverem inteiramente desarraigado”. E, como nota São Gregório, não passam assim as coisas, até mesmo entre os membros do clero, que querem ser chamados doutores e procuram avidamente os primeiros lugares e os cumprimentos? É, pois, mais comum do que se poderia julgar à primeira vista este defeito, que se relaciona também com a vaidade.

            829. 3.° A vaidade é o amor desordenado da estima dos outros.
            Distingue-se do orgulho, que se compraz na sua própria excelência. Mas geralmente a vaidade deriva do orgulho: quem se estima a si mesmo de maneira excessiva, deseja naturalmente ser estimado dos outros.

            830. A) Malícia da vaidade. Há um desejo de ser estimado que não é desordem: desejar que as nossas qualidades, naturais ou sobrenaturais, sejam reconhecidas, para Deus ser por elas glorificado e a nossa influência para o bem ser por esse modo aumentada, em si não é pecado. A ordem pede, efetivamente, que o bem seja estimado, contando que se reconheça que Deus é o autor de todo o bem e que só Ele deve Ser por isso louvado e engrandecido. Quando muito, pode-se dizer que é arriscado demorar o pensamento em desejos desses, porque se corre perigo
de desejar a estima dos outros para fins egoístas.
            A desordem consiste, pois, em querer ser estimado por si mesmo sem referir essa honra a Deus, que em nós pôs tudo quanto há de bom: ou em querer ser estimado por coisas vãs que não merecem louvor; ou enfim em procurar a estima daqueles, cujo critério não tem valor, dos mundanos, por exemplo, que não apreciam senão as coisas vãs.
            Ninguém descreveu melhor este defeito que São Francisco de Sales: “Chamamos vã a glória que nos atribuímos, ou por coisa que não existe em nós, ou por coisa que está em nós, mas não é nossa, ou por coisa que está em nós e é nossa, mas que não merece que dela nos gloriemos. A nobreza da raça, o favor dos grandes, a honra popular, são coisas que não estão em nós, senão em nossos predecessores ou na estima de outrem. Há quem todo se envaideça e pavoneie, por se ver em cima dum bom cavalo, por levar um penacho no chapéu, por estar vestido suntuosamente, mas quem não vê esta loucura? É que, se há glória nessas coisas, essa glória é para o cavalo, para a ave ou para o alfaiate... Outros miram-se e remiram-se, por terem o bigode frisado, a barba bem penteada, os cabelos anelados, mãos muito finas, por saberem dançar, tocar, cantar; mas não será de ânimo vil, querer encarecer o seu valor e acrescentar a reputação com coisas tão frívolas e ridículas? Outros, por um pouco de ciência, querem ser honrados e respeitados do mundo, como se cada qual tivesse obrigação de ir à escola a casa deles e tê-los por mestres; é por isso que os chamam pedantes. Outros narcisam-se extasiados na própria formosura e crêem que toda a gente os galanteia. Tudo isto é extremamente vão, insensato e impertinente, e a glória que se toma de tão fracos motivos chama-se vã, louca e frívola”.

            831. B) Defeitos que derivam da vaidade. A vaidade produz vários defeitos, que são como a sua manifestação exterior; em particular a jactância, a ostentação e a hipocrisia.
            I) A jactância é o hábito de falar de si ou do que pode reverter em seu favor, no intuito de se fazer estimar. Há alguns que falam de si mesmos, de sua família, de seus triunfos com uma candura que faz sorrir aos que escuta; outros têm uma habilidade rara para fazerem deslizar a conversa para um assunto em que possam brilhar; outros ainda falam timidamente dos seus defeitos com a esperança secreta de que os desculparão, pondo em relevo as suas boas qualidades.
            2) A ostentação consiste em atrair sobre si a atenção por certas maneiras de proceder, pelo fausto que alardeia, pelas singularidades que dão o que falar.
            3) A hipocrisia toma os exteriores ou as aparências da virtude, ocultando sob essa máscara vícios secretos muito reais.



[1] Sum. Theol., II-II, q. 131 a.1.

Peter Seewald: Bento XVI leva a humildade e o amor como espada


ROMA, 19 Fev. 13 / 09:30 am (ACI/EWTN Noticias).- Peter Seewald, o jornalista alemão que escreveu o livro-entrevista com o Papa Bento XVI publicado com o título de “Luz do mundo”, assinaloou ontem em um artigo no jornal italiano Il Corriere della Sera, onde descreve o Santo Padre como um pensador e um fie radical, cuja humilde espada é a simplicidade do amor.

“Um pensador radical, esta era minha impressão, e um crente radical que ainda na radicalidad de sua fé não toma a espada, mas outra arma muito mais potente: a força da humildade, da simplicidade e do amor”, escreve.

Para o jornalista, a pesar do cansaço, Bento XVI é um homem de paradoxos, vontade inquebrável, linguagem singela, voz forte, mansidão e rigor.

“Pensa muito bem, mas dispõe atenção aos detalhes. Encarna uma nova inteligência para reconhecer e revelar os mistérios da fé. É um teólogo, mas defende a fé do povo ante a religião dos acadêmicos... Um pensador que reza, e para quem, os mistérios de Cristo representam a realidade determinante da criação e da história do mundo”.

“Um amante do homem que, ante a pergunta de quantos caminhos levam a Deus, não duvida em responder: ‘Há tantos quanto os homens”.

Ninguém antes do Papa deixou ao povo de Deus uma obra tão imponente sobre Jesus –acrescenta- referindo-se à trilogia Jesus de Nazaré.
“É o maior teólogo alemão de todos os tempos”, categorizou.

Seewald assinala que a última entrevista que manteve com o Pontífice, foi há dez semanas no Palácio Apostólico, com o propósito de prosseguir a reconstrução de sua biografia. Naquela ocasião falaram, entre outras coisas, sobre a relação de Bento XVI com seus pais; de quando dissertou do exército hitleriano; e dos discos que escutava para aprender idiomas.

Durante o encontro, recorda que notou ao Santo Padre mais cansado do habitual, “a audição tinha diminuído, já não via do olho esquerdo, e o corpo se estava emagrecendo”, e “se tornou muito delicado, ainda mais amável e humilde, totalmente reservado. Não parecia doente, mas o cansaço que se apoderou de sua pessoa, corpo e alma, não podia ser ignorado por mais tempo”, acrescenta.

A primeira entrevista que uniu ambos, foi em novembro de 1992, na sede da Congregação para a Doutrina da Fé, quando o Papa ainda era o Cardeal Ratzinger.

Seewald explica que se precaveu desde o começo de sua sensibilidade sobre o conceito atual de progresso: “perguntava-se sobre se realmente se podia medir a felicidade do homem em função do produto interno bruto”, escreve.

Quatro anos depois, tiveram várias jornadas de trabalho para falar sobre o projeto de um livro dedicado à fé, à Igreja, ao celibato, entre outros temos; e explica que em sua atitude, sempre demonstrou um traço de humildade.

“Meu interlocutor não caminhava pela habitação dando voltas como costumam fazer os professores. Não havia nele o mais mínimo traço de vaidade, nem de presunção”. Além disso, o Papa “sempre levou a vida modesta de um monge, o luxo lhe era estranho e era completamente indiferente a um ambiente com um conforto superior ao estritamente necessário”, afirma.

“Impressionava-me sua superioridade, o pensamento que não ia de acordo ao passado do tempo e ao mesmo tempo, deixava-me surpreso de escutar as respostas pertinentes aos problemas de nossos tempos que aparentemente não tinham virtualmente solução, extraídos de grande tesouro de revelação, da inspiração dos Padres da Igreja e das reflexões desse guardião da fé que se sentava ante mim”, relata.

Os Vatileaks não foram motivo de renúncia para o Papa

O escritor explicou que também entrevistou o Papa em agosto passado em sua residência do verão de Castel Gandolgo, onde falaram sobre a fuga de documentos de caráter privado do Vaticano, mais conhecido como o caso Vatileaks.

“Este evento não fez que o Papa perdesse a bússola, nem lhe fez sentir o cansaço do seu cargo, ‘porque isto sempre pode acontecer’. O importante para ele era que durante o caso no Vaticano, se garantisse a independência do poder judicial, e que o monarca não possa dizer: eu me encarrego disto!'”, escreve Seewald. 

“Não me deixo levar por uma espécie de desespero ou de dor universal”, “simplesmente me parece incompreensível. Inclusive tendo em conta a pessoa –Paolo Gabriele, ex-mordomo de Papa–, não entendo o que esperava. Não consigo entender sua psicologia”, disse Bento XVI em referência a seu ex-mordomo processado, condenado e posteriormente perdoado pelo Papa pelo caso Vatileaks.

Ante sobre que se podia esperar de seu pontificado, o Papa respondeu ao Seewald “De mim? Do meu (pontificado) não muito. Sou um homem ancião e as forças estão me abandonando. Acredito que basta o que tenho feito”, em referência a um hipotético retiro, acrescentou “depende do que me imponha minha energia física”. 

Pequenos detalhes que comportam uma profunda mensagem

O escritor destaca também que o Papa é um homem de pequenos detalhes que encerram uma profunda mensagem. Como por exemplo que seu primeiro ato fosse uma carta dirigida à comunidade judia; que tirasse a tiara de seu emblema, símbolo do poder terrestre da Igreja; ou que nos sínodos para os bispos pedisse falar também com os hóspedes de outras religiões.

“Pela primeira vez um Papa visitou uma sinagoga alemã, e pela primeira vez um Papa visitou o mosteiro de Martin Lutero, um ato histórico sem igual”, adverte.

Outra mensagem é a supressão de beijar a mão ao Pontífice. Em uma ocasião, “um ex-aluno seu se ajoelhou para beijar-lhe o anel, tirou-o do braço e lhe disse: ‘comportemo-nos normalmente’, escreve assombrado Seewald.

Peter Seewald considera que Bento XVI é um homem de tradição, confia naquilo que está consolidado, mas sabe distinguir entre o que é verdadeiramente eterno e o que é válido só pela época em que saiu à luz.

“E se for necessário, como no Caso da Missa Tridentina, une o antigo ao novo, para que unidos não se reduza o espaço litúrgico, mas na verdade se amplie”, adiciona.

Para Seewald, o Papa foi apresentado pela imprensa internacional como um persecutor quando na verdade foi um perseguido, uma espécie de “bode expiatório ao qual atribuir qualquer injustiça”, assinala.

“Entretanto, ninguém jamais o escutou lamentar-se. Ninguém escutou dizer uma palavra maldosa ou um comentário negativo sobre outras pessoas”.

Bento XVI “se vai, mas seu legado permanece. O sucessor deste muito humilde Papa da era moderna seguirá seus passos. Terá outro carisma, seu próprio estilo, mas uma mesma missão… incentivar aqueles que unem o patrimônio da fé, que permanecem valentes, anunciam uma mensagem, e dão testemunho autêntico”, conclui. 

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

I Parte - O Orgulho e os vícios anexos


A Vida Espiritual explicada e comentada
Adolph Tanquered

§ I. O orgulho em si mesmo
820. O orgulho é um desvio daquele sentimento legítimo que nos leva a estimar o que há de bom em nós, e a procurar a estima dos outros na medida em que ela é útil às boas relações que devemos manter com eles. Não há dúvida que podemos e devemos estimar o que Deus pôs em nós de bom, reconhecendo que Ele é o primeiro princípio e o último fim de tudo: é um sentimento que honra a Deus e nos leva a respeitar-nos a nós mesmos. Pode-se, outrossim, desejar que os outros vejam esse bem, que o apreciem e dêem por ele glória a Deus, do mesmo modo que devemos reconhecer e estimar as qualidades do próximo: esta mútua estima não faz senão favorecer as boas relações que existem entre os homens. Mas pode haver desvio ou excesso nestas duas tendências. Por vezes esquece o homem que Deus é autor desses dons, e atribui-os a si mesmo: o que é evidentemente desordem, porque é negar, ao menos implicitamente, que Deus é o nosso primeiro princípio. Assim mesmo, pode alguém ser tentado a operar para si próprio, ou para ganhar a estima dos outros, em lugar de trabalhar para Deus e de lhe referir toda a honra do que faz: é também desordem, porque é negar, implicitamente ao menos, que Deus é o nosso último fim. Tal é a dupla desordem que se encontra neste vício.
Cena do Filme O Retrato de Dorian Gray

Pode-se, pois, definir: um amor desordenado de si mesmo que faz que o homem se estime explícita ou implicitamente, como se fosse o seu primeiro princípio ou último fim. E uma espécie de idolatria, porque o homem se considera como o seu próprio Deus, segundo faz notar Bossuet (n.º 204). - Para melhor combatermos o orgulho, exporemos:

1.º- as suas formas principais;
2.º- os defeitos que ele gera;
3.º- a sua malícia;
4.º- os seus remédios.

I. As principais formas do orgulho

821. 1.º A primeira forma consiste em se considerar a si mesmo o homem, explícita ou implicitamente, como seu primeiro princípio.
A) Há relativamente poucos que explicitamente se amem de forma tão desordenada que cheguem a considerar-se primeiro princípio de si mesmos.
a) É o pecado dos ateus que voluntariamente rejeitam a Deus, por não quererem senhor; ni Dieu, ni maitre. É deles que fala o Salmista, quando assevera: “Disse o insensato em seu coração: não há Deus. Dixit insipiens in corde suo: non est Deus”[1]. Foi equivalentemente o pecado de Lúcifer, que, pretendendo ser autônomo, recusou submeter-se a Deus; o dos nossos primeiros pais, que, desejando ser como deuses, quiseram conhecer por si mesmos o bem e o mal; o dos hereges, que, como Lutero, se negaram a reconhecer a autoridade da Igreja estabelecida por Deus; e o dos racionalistas que, ufanos da própria razão, não querem submetê-la à fé. É, outrossim, o pecado de certos intelectuais, que, demasiadamente orgulhosos para aceitarem a interpretação tradicional dos dogmas, os atenuam e deformam, para os harmonizarem com as suas exigências.

822. B) É maior o número dos que caem implicitamente neste defeito, procedendo como se os dons naturais e sobrenaturais, que Deus nos liberalizou, fossem completamente nossos. Reconhece-se, é verdade, em teoria que Deus é o nosso primeiro princípio; mas na prática, tem-se da própria pessoa uma estima desmesurada, como se cada um fosse autor das qualidades que possui.

a) Há quem se compraza nas suas qualidades e merecimentos, como se fosse único autor deles: “A alma, vendo-se bela, diz Bossuet, deleitou-se em si mesma e adormeceu na contemplação da própria excelência: deixou um momento de se referir a Deus: esqueceu a própria dependência; primeiramente demorou-se e depois entregou-se a si mesma. Mas, procurando ser livre até se emancipar de Deus e das leis a Justiça tornou-se o homem cativo do seu pecado”.        

823. b) Mais grave é o orgulho dos que se atribuem a si mesmo a prática das virtudes como os Estóicos; dos que imaginam que os dons gratuitos de Deus são frutos dos nossos merecimentos e que as nossas boas obras nos pertencem mais que a Deus, quando em realidade é Ele a sua causa principal; ou enfim, dos que nelas se comprazem como se fossem unicamente suas.

824. C) É este mesmo princípios que faz que o orgulhoso exagere as suas qualidades pessoais. 
a) Fecham-se os olhos sobre os próprios defeitos, e remiram-se as qualidades com óculos de aumento; por esse processo chega o homem a atribuir-se qualidades que não possui ou que ao menos não têm mais que a aparência da virtude; e assim é que, dando esmola por ostentação, julgará que e caritativo, quando não passa de orgulhoso; imaginará que é um santo, porque tem consolações sensíveis, ou escreveu belos pensamentos ou excelentes resoluções, quando na realidade está ainda nos primeiros degraus da escala da perfeição. Outros crêem ter uma grande alma, porque fazem pouco caso das pequenas regras, querendo-se santificar pelos grandes meios.

b) Daí a preferir-se injustamente aos demais não vai mais que um passo: examinam-se à lente os defeitos alheios, nos próprios nem se sonha; vê-se o argueiro nos olhos do vizinho, nos próprios não se enxerga a trave. Por este caminho chega muitas vezes o orgulhoso, como o Fariseu, a desprezar os irmãos; outras, sem ir tão longe rebaixa-os injustamente no próprio conceito, julgando-se melhor que eles, quando na realidade lhes é inferior. Do mesmo princípio vem procurar dominar os demais e fazer reconhecer a sua superioridade sobre eles.

c) Com relação aos Superiores, traduz-se o orgulho pelo espírito de crítica e revolta, que leva a espiar os seus mais pequeninos gestos ou passos, para os censurar: quer-se julgar, sentenciar de tudo. Deste modo se torna muito mais difícil a obediência; sente-se enorme dificuldade em acatar a sua autoridade e decisões, em pedir-lhes as licenças necessárias; aspira-se à independência, isto é, em última análise, a ser seu primeiro princípio.

825. 2.º A segunda forma do orgulho consiste em se considerar um a si mesmo explícita ou implicitamente como seu último fim, fazendo as próprias ações sem as referir a Deus e desejando ser louvado, como se elas fossem completamente suas. Este defeito deriva do primeiro; pois, quem se considera como seu primeiro princípio, quer ser também seu último fim. Aqui seria mister renovar as distinções já feitas.

A) Explicitamente, pouquíssimos são os que se consideram seu último fim, exceto os ateus e os incrédulos.
B) Muitos são, porém, os que procedem na prática, como se estivessem imbuídos desse erro.

a) Querem ser louvados, cumprimentados pelas suas boas obras, como se fossem os seus autores principais e tivessem o direito de proceder por sua conta, para satisfação da própria vaidade. Em lugar de referirem tudo a Deus, entendem antes que devem receber felicitações pelos seus pretensos triunfos, como se tivessem direito a toda a honra que daí provém.

b) Procedem por egoísmo, pelos próprios interesses, dando-se-lhes muito pouco da glória de Deus, e ainda menos do bem do próximo. E assim, vão até o excesso de imaginar praticamente que os outros devem organizar a sua vida para lhes agradarem e prestarem serviço; fazem-se assim centro e, a bem dizer, fim dos demais. Não será isto usurpar inconscientemente os direitos de Deus?

c) Sem irem tão longe, há pessoas piedosas, que se buscam a si mesmas, se queixam de Deus, quando Ele as não inunda de consolações, se desalentam, quando se vêem na aridez, e imaginam assim falsamente que o fim da piedade é gozar das consolações, sendo que em realidade a glória de Deus deve ser o nosso fim supremo em todas as ações, mas sobretudo na oração e nos exercícios espirituais.

826. É, pois, forçoso confessar que o orgulho, sob uma ou outra forma, é defeito muito comum, até mesmo entre as pessoas que se dão à perfeição, defeito que nos segue através de todas as fases da vida espiritual e que só conosco morrerá. Os principiantes quase nem sequer dão por ele, porque não se estudam assaz profundamente. Importa chamar-lhes a atenção para este ponto, indicar-lhes as formas mais ordinárias deste defeito, para as tomarem por matéria do exame particular.




[1] Sl 13,1.- 2- Tr. de la Concupiscense, ch XI