Nosso Canal

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

507 anos de heroísmo e fidelidade: Os Guardas Suíços

Nota do Diretor Geral: Queremos com esta postagem fazermos uma singela homenagem a esses homens que com fidelidade e imensa bravura prestam seus serviços ao Romano Pontífice gloriosamente reinante.


 ***

GaudiumPress: Fazem 507 anos que, desfilando com passo militar marcado por tambores, 110 soldados vindos da Confederação Helvética ultrapassaram os muros do Vaticano.

Era um corpo de defesa que, com o passar do tempo, tornou-se a Guarda Suíça, que escreve sua história com fidelidade, abnegação e heroísmo.

Foi o Papa Júlio II quem pediu aos Helvécios que enviassem um grupo de soldados que o defendessem de seus inimigos. O Papa foi atendido e, então, nasceu o atual corpo de defesa Pontifício.

Eles chegaram, mais exatamente, no dia 22 de janeiro de 1506, e por isso comemorou-se recentemente os mais de 500 anos da vinda deles para Roma.Houve missa celebrada pelo Mestre de Cerimônias de Bento XVI e um desfile militar tal como foi feito pelos primeiros Guardas que se instalaram no Vaticano.

Urs Breitenmosser - Guarda Suíça Pontifícia: "Aquela era uma época em que os suíços eram mercenários muito conhecidos pelos serviços que sempre desenvolviam com fidelidade e valentia. Algo que ainda hoje tentamos fazer em nosso trabalho, estando sempre no máximo de nossas possibilidades”.

Sem dívidas, um trabalho que foi desenvolvido sempre com fidelidade para com todos os Papas.Seu característico e vistoso uniforme expressa a alegria de ser soldado,  a vontade de combater e de estar a serviço do Sucessor de Pedro. E a cor vermelha que trazem simboliza a disposição de derramar seu sangue para defender o Santo Padre, seja ele quem for.

Sempre trabalhei com amor


Das Cartas de São João Bosco, presbítero
(Epistolario, Torino 1959, 4,201-203)
(Séc.XIX)

Antes de mais nada, se queremos ser amigos do verdadeiro bem de nossos alunos e levá-los ao cumprimento de seus deveres, é indispensável jamais vos esquecerdes de que representais os pais desta querida juventude. Ela foi sempre o terno objeto dos meus trabalhos, dos meus estudos e do meu ministério sacerdotal; não apenas meu, mas da cara congregação salesiana.

Quantas vezes, meus filhinhos, no decurso de toda a minha vida, tive de me convencer desta grande verdade! É mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança do que persuadi-la. Direi mesmo que é mais cômodo, para nossa impaciência e nossa soberba, castigar os que resistem do que corrigi-los, suportando-os com firmeza e suavidade.

Tomai cuidado para que ninguém vos julgue dominados por um ímpeto de violenta indignação. É muito difícil, quando se castiga, conservar aquela calma tão necessária para afastar qualquer dúvida de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou descarregar o próprio mau humor. Consideremos como nossos filhos aqueles sobre os quais exercemos certo poder. Ponhamo-nos a seu serviço, assim como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens; envergonhemo-nos de tudo o que nos possa dar aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, é para melhor servirmos.

Assim procedia Jesus com seus apóstolos; tolerava-os na sua ignorância e rudeza, e até mesmo na sua pouca fidelidade. A afeição e a familiaridade com que tratava os pecadores eram tais que em alguns causava espanto, em outros escândalo, mas em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus. Por isso nos ordenou que aprendêssemos dele a ser mansos e humildes de coração.

Uma vez que são nossos filhos, afastemos toda cólera quando devemos corrigir-lhes as faltas ou, pelo menos, a moderemos de tal modo que pareça totalmente dominada.

Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; então sereis verdadeiros pais e conseguireis uma verdadeira correção.

Em determinados momentos muito graves, vale mais uma recomendação a Deus, um ato de humildade perante ele, do que uma tempestade de palavras que só fazem mal a quem as ouve e não têm proveito algum para quem as merece.

Que o desprezo dos conselhos evangélicos é um grande pecado


São Francisco de Sales
Tratado do amor de Deus
Livro oitavo, Capítulo VIII

São tão fortes e prementes as palavras pelas quais Nosso Senhor nos exorta a tendermos e pretendermos a perfeição, que não poderíamos dissimular a obrigação que temos de nos empenharmos nesse desígnio. Sede santos, diz Ele, porque Eu sou santo (Lv., 11, 44). Quem é santo seja ainda mais santificado, e quem é justo seja ainda mais justificado (Apoc., 22, 11). Sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito (Mt., 5, 48). Por isso, o grande São Bernardo, escrevendo ao glorioso São Guarino, abade de Aux[1] cuja vida e milagres tão bom odor exalaram nesta diocese, diz: O homem justo nunca diz: Basta; tem sempre fome e sede de justiça.

De certo, Teótimo, quanto aos bens temporais, nada basta àquele a quem aquilo que basta não basta; pois que é que pode bastar a um coração ao qual a suficiência não é suficiente? Mas quanto aos bens espirituais, não tem o que lhe basta aquele a quem basta ter o que lhe basta e a suficiência não é suficiente, porque a verdadeira suficiência nas coisas divinas consiste em parte no desejo da afluência. No começo do mundo Deus mandou à terra produzir a erva verde dando a sua semente, e toda árvore frutífera dando o seu fruto, cada uma segundo a sua espécie, que teve também sua semente em si mesma (Gn., 1, 11).

E não vemos por experiência que as plantas e frutos não têm o seu justo crescimento e maturidade senão quando dão seus grãos e pevides, que lhes servem de prole para a produção de plantas e de árvores de igual espécie? Jamais virtudes têm a sua justa estatura e suficiência, que não produzem em nós desejos de fazermos progressos, que, quais sementes espirituais, sirvam na produção de novos graus de virtudes. E parece-me que a terra do nosso coração tem ordem de germinar as plantas das virtudes que dão os frutos das santas obras, cada uma segundo o seu gênero, e que tenha as sementes dos desejos e desígnios de sempre multiplicar e avançar em perfeição. E a virtude que não tem o grão ou a pevide desses desejos não está na sua suficiência e maturidade. "Oh! pois, diz São Bernardo ao indolente, não queres adiantar-te na perfeição? - Não. - E também não queres piorar? - Em verdade, não. - E como então não queres ser nem pior nem melhor? Ai! pobre homem, queres ser aquilo que não pode ser. Realmente, nada é estável nem firme neste mundo; mas do homem ainda mais particularmente é dito que nunca fica num mesmo estado (Job., 14, 2). Cumpre, pois, ou que avance, ou que retroceda".

Ora, eu não digo, como não o diz também São Bernardo, que seja pecado não praticar os conselhos. Não, certamente, Teótimo: pois a diferença própria do mandamento ao conselho é que o mandamento nos obriga sob pena de pecado, e o conselho nos convida sem pena de pecado. Não obstante, eu digo que é um grande pecado desprezar a pretensão à perfeição cristã, e ainda mais o desprezar a advertência pela qual Nosso Senhor a ela nos chama; mas é uma impiedade insuportável desprezar os conselhos e meios de chegar a ela que Nosso Senhor nos assinala. É uma heresia dizer que Nosso Senhor não nos aconselhou bem, e uma blasfêmia dizer a Deus: Retira-te de nós, não queremos a ciência dos teus caminhos (Job., 21, 14). Mas é uma irreverência horrível contra aquele que com tanto amor e suavidade nos convida à perfeição, dizermos: Não quero ser santo nem perfeito, nem mais ter parte na Vossa benevolência, nem seguir os conselhos que me dais para fazer progressos nela.

Bem que se pode, sem pecar, não seguir os conselhos, pelo afeto que se tem alhures: como, por exemplo, bem se pode não vender o que se tem e não o dar aos pobres, porque não se tem a coragem de fazer tamanha renúncia; bem se pode também casar, porque se ama uma mulher, ou porque não se tem bastante força na alma para empreender a guerra que é preciso fazer à carne. Mas fazer profissão de não querer seguir os conselhos, nem qualquer deles, isso não se pode fazer sem desprezo daquele que os dá. Não seguir o conselho de virgindade, a fim de se casar, isso não é malfeito: porém casar-se por preferir o casamento à castidade, como fazem os hereges, é um grande desprezo ou do conselheiro ou do conselho. Beber vinho, contra o parecer do médico, quando se é vencido pela sêde ou pela fantasia de bebê-lo, propriamente não é desprezar o médico nem seu parecer, porém dizer: Não quero seguir o conselho do médico; deve isso provir de uma má estima que se tem dele. Ora, quanto aos homens, pode-se muitas vezes desprezar-lhes o conselho, e não desprezar aqueles que o dão, porque não é desprezar um homem o achar que ele tenha errado. Mas quanto a Deus, rejeitar o Seu conselho e desprezá-lO, isto não pode provir senão do juízo que se faz de que Ele não haja aconselhado bem; o que não pode ser pensado senão por espírito de blasfêmia; como se Deus não fosse bastante sábio para saber, ou bastante bom para querer aconselhar bem. E o mesmo se dá com os conselhos da Igreja, a qual, em razão da contínua assistência do Espírito Santo, que a ensina e guia em toda verdade, nunca pode dar maus conselhos.


[1] Aux, Nossa Senhora dos Alpes, mosteiro da diocese de Genebra, fundado em 1133.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

É possível um relativismo absoluto?

Reflexões sobre o atual ateísmo relativista

Roma, 28 de Janeiro de 2013 (Zenit.org).

Pe. Anderson Alves

Em um texto anterior[i], nos perguntávamos se fosse possível conciliar o relativismo e o ateísmo. E víamos que, segundo três famosos ateus (Nietzsche, Adorno e Horkheimer) o ateísmo, ao negar a origem do conhecimento e ao tomar como verdade a inexistência de Deus, cai numa contradição insuperável[ii]. De fato, quem nega a existência da verdade, não poderia coerentemente afirmar que Deus não existe. Entretanto, sabemos que há quem se esforce muito por conciliar relativismo e ateísmo, colocando um ateísmo indiscutível e dogmático como fundamento do relativismo e construindo um sistema de pensamento no qual se parte da negação de Deus e, a partir dessa verdade quase “divina”, afirma-se um relativismo moral e cognitivo radical.

Um pensador que colocou em íntima relação o ateísmo com o tema da verdade foi F. Nietzsche, autor que se considerava «ateu por instinto». De fato, seu ateísmo voluntarista tinha como consequência a afirmação de um forte relativismo e a verdade era considerada como «um exército de metáforas, metonímias», «ilusões das quais se esqueceu a sua natureza ilusória», «moedas nas quais as imagens foram consumidas»[iii]. Em outro texto famoso, ele fazia uma interessante observação: «receio que não possamos nunca afastar-nos de Deus porque ainda acreditamos na Gramática»[iv]. Desse modo, o ateísmo radical deveria conduzir a uma sociedade sem ciências, sem explicações últimas, na qual o homem só seria capaz de conhecer seus próprios estados de ânimo. Porém, tudo isso parte de uma afirmação com valor de verdade absoluta: «Deus morreu, Deus continua morto, nós o matamos»[v]. O “teomicídio” seria, pois, o ato supremo de uma vontade que busca uma autonomia absoluta, e não de uma demonstração racional. E aquele gesto traria consigo um relativismo radical, mas não certamente absoluto.

É certo que hoje muitos pensam que o relativismo seja o fundamento do ateísmo, mas isso se deve a um modo superficial de examinar o problema. Se o relativismo é total, se não há nenhuma verdade, jamais pode ser verdade que Deus não exista. De modo que, surpreendentemente, o ateísmo mesmo coloca limites ao relativismo. Em outras palavras, pode existir um ateísmo relativista, ou seja, um ateísmo a partir do qual se deduz o relativismo, mas não um relativismo ateu.

Então, é impossível um relativismo absoluto? Coloquemos de outro modo a questão: pode ser verdade que não existe nenhuma verdade? Só há duas respostas possíveis: “sim, é verdade que não existe nenhuma verdade”. Ora, quem diz isso, assume, talvez inconscientemente, que há alguma verdade; e se alguém disser “não, não pode ser verdade que não exista a verdade”, certamente estaria usando melhor a sua razão e teria encontrado a resposta lógica. De modo que, com uma resposta ou outra, a conclusão é sempre a mesma: não pode existir um “relativismo absoluto”, a verdade sempre faz parte do nosso pensamento e discurso.

A consequência disso é, que por incrível que pareça, o relativismo só pode ser relativo, uma vez que só pode ser parcial. Isso porque é sempre necessário aceitar que há alguma verdade, que algo pode ser conhecido. Certo tipo de relativismo pode ser aceito para as opiniões, que são afirmações de algo pouco fundamentado, de modo quando se opina se há receio de que a afirmação contrária seja a verdadeira. Mas nem tudo na nossa comunicação é simples opinião.

Aristóteles dizia que como a verdade é uma realidade primeira do nosso pensamento, quem nega a verdade, afirma a verdade. Ou seja, quem nega que ela exista, sabe já o que ela seja e supõe que é verdade a sua não existência, o que é uma contradição em termos. Outro modo de fugir ao compromisso com a verdade seria assumir a posição cética, ou seja, aquela postura de certos pensadores que dizem não ser possível nem afirmar, nem negar a verdade. Quem assume essa posição, certamente se livra da linguagem e da “Gramática”, mas isso traz consigo uma consequência nefasta: não negar nem afirmar algo, faz o ser humano se tornar semelhante a uma planta, com quem não é educado discutir.

O relativismo só pode, pois, ser relativo, ou seja, só pode ser aplicado a algumas afirmações e nunca a todas. A verdade não pode jamais ser excluída da vida e da linguagem humana, a menos que alguém se conforme em viver como uma planta. F. Nietzsche só pôde dizer que a verdade é «um exército de metáforas», uma «ilusão», uma moeda sem valor porque sabia perfeitamente o que é uma metáfora, uma ilusão, uma moeda com valor. Negar a verdade implica sempre aceitar a verdade, assim como negar Deus implica pressupor a sua existência.

Então, temos que colocar agora a incômoda questão: afinal de contas, o que é a verdade? Platão dizia que «verdadeiro é o discurso que diz as coisas como são, falso o que diz como as coisas não são»[vi]. E Aristóteles afirmou algo tão simples quanto essencial: «Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que não é, é falso, enquanto afirmar o que é e negar o que não é, é a verdade»[vii]. A verdade se dá quando o nosso discurso expressa o que as coisas realmente são.

Em que sentido então pode ser aceito o relativismo? Já iniciamos aqui a resposta, mas a aprofundaremos numa outra ocasião. O que importa agora é deixar clara a conclusão a que chegamos: o relativismo não pode ser absoluto, só pode ser, por incrível que pareça, relativo.

Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.


[ii] M. HORKHEIMER e Th.ADORNO, Dialettica dell’illuminismo, Einaudi, Torino 1966, p. 125: «Percebemos “que também os não conhecedores de hoje, nós, ateus e antimetafísicos, alimentamos ainda o nosso fogo no incêndio de uma fé antiga dois milênios, aquela fé cristã que era já a fé de Platão: ser Deus a verdade e a verdade divina”. Sendo assim, a ciência cai na crítica feita à metafísica. A negação de Deus implica em si uma contradição insuperável, enquanto nega o saber mesmo».

[iii] Cfr. F. NIETZSCHE, Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral, ed. Hedra, São Paulo 2007.

[iv] Cfr. Idem, Crepúsculo dos Ídolos, ed. Companhia das Letras, São Paulo 2006.

[v] Idem, A Gaia ciência, ed. Hemus, Curitiba 2002, p. 134.

[vi] PLATÃO, Crátilo 385 b; cfr. também Sofista, 262 e

[vii] ARISTÓTELES, Metafísica, IV, 7, 1011 b 26 e segs.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Prefeito da Congregação para o Clero expressa gratidão aos seminaristas


Cidade do Vaticano (RV) - Foram publicadas na última sexta-feira, dia 25, duas Cartas apostólicas de Bento XVI, em forma de Motu Proprio, com as quais se transferem à Congregação para o Clero a competência sobre os Seminários, até então atribuída à Congregação para a Educação Católica; e ao Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização a competência sobre a Catequese, até então atribuída à Congregação para o Clero.
Foto da Procissão de Corpus Christi - Seminário Maria Mater Ecclesiae

Como novo responsável pelos seminários, o prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Mauro Piacenza, dirigiu – nos microfones da Rádio Vaticano – a sua saudação aos seminaristas:
Cardeal Mauro Piacenza:
- "Enquanto o mundo parece prodigalizar-se para marginalizar Deus da sociedade, os seminaristas, com o seu sim a Deus, testemunham que Cristo está presente na sociedade, que a Igreja é viva e que Deus ama todo homem. Portanto, este é um sentimento de gratidão que sinto o dever de expressar. Ademais, gostaria de dizer que não há nada mais precioso para a Igreja que empenhar-se na preparação dos futuros sacerdotes, ou seja, daqueles que Deus escolheu, a fim de que imersos no oceano do seu amor possam depois tornar o Bom Pastor presente no meio dos homens. Deverão tornar-se para os homens o misericordioso abraço de Cristo. Porque cada um, mesmo quem se encontra afastado, traz consigo a marca de Deus e, portanto, evidentemente, tem sempre uma sede de infinito, do belo e do bom.
 Seminário Maria Mater Ecclesiae 2012

Devemos formar as pessoas, e os seminaristas são jovens cheios de entusiasmo: não podemos desiludi-los, devemos ajudá-los a se tornarem para os homens justamente esse abraço misericordioso de Cristo. Gostaria de dizer-lhes que a nossa Congregação fará tudo aquilo que a caridade pastoral sugerir para acompanhar, para promover as vocações sacerdotais e a qualidade de vida nos seminários. Peço orações para os seminaristas a fim de poder ajudá-los, auxiliando os seus bispos, e asseguro a minha oração, a oração de todos os membros da Congregação para o Clero. E faço votos de que a Mãe de Jesus forme em todo seminarista a imagem de seu Filho." (RL)

Consternado, Bento XVI consola famílias das vítimas em Santa Maria

Nota do Diretor Geral: Unidos ao Santo Padre, nós da Irmandade dos Defensores da sagrada Cruz nos solidarizamos as famílias enlutadas e rezamos para que Deus em seu infinito amor conceda a paz e a fortaleza neste momento de tão profunda dor.

Exáudiat nos omnípotens et miséricors Dóminus.
Amen.
Et fidélium ánimae per misericórdiam Dei requiéscant in pace.
Amen


Cidade do Vaticano (RV) – A Secretaria de Estado do Vaticano divulgou na manhã desta segunda, 28, o telegrama enviado pelo Papa ao Arcebispo de Santa Maria, Dom Hélio Adelar Rubert, expressando seu pesar pela tragédia ocorrida na cidade universitária. No incêndio da boate ‘Kiss’ morreram 232 jovens e 80 estão hospitalizados em estado grave. 

Consternado pela trágica morte de centenas de jovens em um incêndio em Santa Maria, o Sumo Pontífice pede a Vossa Excelência que transmita às famílias das vítimas suas condolências e sua participação na dor de todos os enlutados. Ao mesmo tempo em que confia a Deus Pai de misericórdia os falecidos, o Santo Padre pede ao céu o conforto e restabelecimento para os feridos, coragem e a consolação da esperança cristã para todos atingidos pela tragédia e envia, a quantos estão em sofrimento e ao mesmo procuram remediá-lo, uma propiciadora bênção apostólica”.

O telegrama de Bento XVI é assinado pelo Cardeal Tarcísio Bertone, Secretário de Estado de Sua Santidade.


segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Bento XVI: A falta de fé gera crises no matrimônio.


Vaticano, 26 Jan. 13 / 02:46 pm (ACI/EWTN Noticias).- Em seu discurso de sábado pela manhã aos membros do Tribunal da Rota Romana, o mais alto tribunal eclesiástico da Santa Sé, o Papa Bento XVI assinalou que “a carência de fé pode ferir os bens do matrimônio: procriação, fidelidade conjugal e indissolubilidade”.
 
O Santo Padre sublinhou que a atual crise de fé ocasiona uma crise na união conjugal, acrescentando que o rechaço da proposta de Deus leva a um profundo desequilíbrio em todas as relações humanas.

O “acentuado subjetivismo e relativismo ético e religioso” da cultura contemporânea impõe à família “desafios urgentes”, disse o Papa.

Bento XVI lamentou que exista uma “difundida mentalidade” de que a pessoa “seja ela mesma permanecendo ‘autônoma’ e entrando em contato com o outro só mediante relações que possam ser interrompidas em qualquer momento”.

O Papa sublinhou que “só abrindo-se à verdade de Deus é possível compreender, e realizar no concreto da vida também conjugal e familiar, a verdade do homem como filho dele, regenerado pelo Batismo”.

Ao refletir sobre a indissolubilidade do pacto matrimonial entre um homem e uma mulher, indicou que este “não requer, por fins sacramentais, a fé pessoal dos noivos”, mas o que se pede, “como condição mínima necessária é a intenção de fazer aquilo que faz a Igreja”.

Entretanto, apontou, “embora seja importante não confundir o problema da intenção com aquele da fé pessoal dos contraentes, não é possível separá-los totalmente”.

Ao recordar os três bens do matrimônio, mencionados por Santo Agostinho, procriação, fidelidade conjugal e indissolubilidade, o Papa advertiu que não se deve prescindir “da consideração de que possam apresentar-se casos nos que justamente pela ausência de fé, o bem dos cônjuges resulte comprometido e portanto excluído do consenso mesmo”.

O Santo Padre advertiu que “com estas considerações, não pretendo certamente sugerir algum fácil automatismo entre carência de fé e nulidade da união matrimonial, mas evidenciar como tal carência poderá, embora não necessariamente, ferir também os bens do matrimônio, a partir do momento em que a referência à ordem natural querida por Deus é inerente ao pacto conjugal”.
 
O Papa assinalou que sobre a problemática da validez do matrimônio, “sobretudo no contexto atual, será necessário promover ulteriores reflexões”.

Bento XVI também recordou aqueles Santos que viveram o matrimônio de acordo à perspectiva cristã”, obtendo assim “superar também as situações mais adversas, conseguindo às vezes a santificação do cônjuge e dos filhos com um amor sempre reforçado por uma sólida confiança em Deus”.

Na cruz não falta nenhum exemplo de virtude


Das Conferências de Santo Tomás de Aquino, presbítero
(Colatio 6 super Credo in Deum)
(Séc.XIII)

Que necessidade havia para que o Filho de Deus sofresse por nós? Uma necessidade grande e, por assim dizer, dupla: para ser remédio contra o pecado e para exemplo do que devemos praticar.

Foi em primeiro lugar um remédio, porque na paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males que nos sobrevêm por causa dos nossos pecados.

Mas não é menor a utilidade em relação ao exemplo. Na verdade, a paixão de Cristo é suficiente para orientar nossa vida inteira. Quem quiser viver na perfeição, nada mais tema fazer do que desprezar aquilo que Cristo desprezou na cruz e desejar o que ele desejou. Na cruz, pois, não falta nenhum exemplo de virtude.

Se procuras um exemplo de caridade: Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Assim fez Cristo na cruz. E se ele deu sua vida por nós, não devemos considerar penoso qualquer mal que tenhamos de sofrer por causa dele.

Se procuras um exemplo de paciência, encontras na cruz o mais excelente! Podemos reconhecer uma grande paciência em duas circunstâncias: quando alguém suporta com serenidade grandes sofrimentos, ou quando pode evitar os sofrimentos e não os evita. Ora, Cristo suportou na cruz grandes sofrimentos, e com grande serenidade, porque atormentado, não ameaçava (1Pd 2,23); foi levado como ovelha ao matadouro e não abriu a boca (cf. Is 53,7; At 8,32).

É grande, portanto, a paciência de Cristo na cruz. Corramos com paciência ao combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da fé. Em vista da alegria que lhe foi proposta, suportou a cruz, não se importando com a infâmia (cf. Hb 12,1-2).

Se procuras um exemplo de humildade, contempla o crucificado: Deus quis ser julgado sob Pôncio Pilatos e morrer.
 
Se procuras um exemplo de obediência, segue aquele que se fez obediente ao Pai até à morte: Como pela desobediência de um só homem, isto é, de Adão, a humanidade toda foi estabelecida numa condição de pecado, assim também pela obediência de um só, toda a humanidade passará para uma situação de justiça (Rm 5,19).

Se procuras um exemplo de desprezo pelas coisas da terra, segue aquele que é Rei dos reis e Senhor dos senhores, no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência (Cl 2,3), e que na cruz está despojado de suas vestes, escarnecido, cuspido, espancado, coroado de espinhos e, por fim, tendo vinagre e fel como bebida para matar a sede.

Não te preocupes com as vestes e riquezas, porque repartiram entre si as minhas vestes (Jo 19,24); nem com honras, porque fui ultrajado e flagelado; nem com a dignidade, porque tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em minha cabeça (cf. Mc 15,17); nem com os prazeres, porque em minha sede ofereceram-me vinagre (Sl 68,22).

sábado, 26 de janeiro de 2013

Devemos perguntar-nos como vivemos cotidianamente o grande dom da fé.


Catequese de Bento XVI: reflexão sobre o Credo 23/01/2013
Boletim da Santa Sé
(Tradução: Jéssica Marçal - equipe CN Notícias)

CATEQUESE
Sala Paulo VI
Quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Queridos irmãos e irmãs,gostaria de iniciar hoje a refletir convosco sobre o Credo, isso é, sobre a solene profissão de fé que acompanha a nossa vida de crentes. O Credo começa assim: "Eu creio em Deus". É uma afirmação fundamental aparentemente simples na sua essencialidade, mas que abre ao infinito mundo do relacionamento com o Senhor e com o seu mistério. Crer em Deus implica adesão a Ele, acolhimento da sua Palavra e obediência alegre à sua revelação. Como ensina o Catecismo da Igreja Católica, " a fé é um ato pessoal: é a livre resposta do homem à iniciativa de Deus que se revela" (n. 166). Poder dizer acreditar em Deus é também um dom - Deus se revela, vem ao nosso encontro - e um empenho, é graça divina e responsabilidade humana, em uma experiência de diálogo com Deus que, por amor, "fala aos homens como aos amigos" (Dei Verbum, 2), fala a nós a fim de que, na fé e com a fé, possamos entrar em comunhão com Ele.

Onde podemos escutar Deus e a sua Palavra? Fundamental é a Sagrada Escritura, na qual a Palavra de Deus se faz escutável para nós e alimenta a nossa vida de "amigos" de Deus. Toda a Bíblia narra o revelar-se de Deus à humanidade; toda a Bíblia fala de fé e nos ensina a fé narrando uma história na qual Deus leva adiante o seu projeto de redenção e se faz próximo a nós homens, através de tantas luminosas figuras de pessoas que acreditam Nele e Nele confiam, até a plenitude da revelação no Senhor Jesus. 

Muito belo, a este respeito, é o capítulo 11 da Carta aos Hebreus, que escutamos há pouco. Aqui se fala da fé e se colocam à luz grandes figuras bíblicas que a viveram, transformando-se modelo para todos os crentes. Diz o texto no primeiro versículo: "A fé é fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê" (11, 1). Os olhos da fé são, portanto, capazes de ver o invisível e o coração do crente pode esperar além de toda a esperança, propriamente como Abraão, do qual Paulo diz na Carta aos Romanos que “acreditou, esperando contra toda a esperança” (4,18).

E é propriamente sobre Abraão que gostaria de concentrar-me e concentrar a nossa atenção, porque é ele a primeira grande figura de referência para falar de fé em Deus: Abraão o grande patriarca, modelo exemplar, pai de todos os crentes (cfr Rm 4, 11-12). A Carta aos Hebreus o apresenta assim: "Foi pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa. Por que tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus” (11,8-10).

O autor da Carta aos Hebreus faz também referência ao chamado de Abraão, narrado no Livro de Gênesis, o primeiro livro da Bíblia. O que pede Deus a este patriarca? Pede-lhe para partir abandonando a própria terra para ir para o país que lhe mostraria, "Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai, e vai para a terra que eu te mostrar" (Gen 12, 1). Como respondemos nós a um convite similar? Trata-se, na verdade, de uma partida à escuridão, sem saber onde Deus o conduzirá; é um caminho que pede uma obediência e uma confiança radical, ao qual só a fé concede o acesso. Mas a escuridão do desconhecido – onde Abraão deve ir – é iluminada pela luz de uma promessa; Deus acrescenta ao comando uma palavra tranquilizante que abre diante de Abraão um futuro de vida em plenitude: “farei de ti uma grande nação; eu te abençoarei e exaltarei o teu nome...e todas as famílias da terra serão benditas em ti” (Gen 12, 2.3). 

A benção, na Sagrada Escritura está ligada primeiramente ao dom da vida que vem de Deus e se manifesta antes de tudo na fecundidade, em uma vida que se multiplica, passando de geração em geração. E à benção está ligada também a experiência da posse de uma terra, de um lugar estável no qual viver e crescer em liberdade e segurança, temendo a Deus e construindo uma sociedade de homens fiéis à Aliança, “reino de sacerdotes e nação santa” (cfr Es 19, 6). 

Por isso Abraão, no projeto divino, está destinado a transformar-se “pai de  uma multidão de povos” (Gen 17, 5; cfr Rm 4, 17-18) e a entrar em uma nova terra onde habitar. Porém, Sara, sua esposa, é estéril, não pode ter filhos; e o país para o qual Deus o conduz é distante da sua terra de origem, já está habitado por outras populações, e não lhe pertencerá mais verdadeiramente. O narrador bíblico o enfatiza, com muita discrição: quando Abraão chega ao lugar da promessa de Deus: “os cananeus estavam então naquela terra” (Gen 12, 6). A terra que Deus doa a Abraão não lhe pertence, ele é um estrangeiro e como tal permanecerá para sempre, com tudo aquilo que isto comporta: não ter ambição de propriedade, sentir sempre a própria pobreza, ver tudo como presente. Esta é também a condição espiritual de quem aceita seguir o Senhor, de quem decide partir acolhendo o seu chamado, sob o sinal de sua invisível mas poderosa benção. E Abraão, “pai dos crentes”, aceita este chamado, na fé. Escreve São Paulo na Carta aos Romanos: “Ele acreditou, esperando contra toda a esperança e assim e se tornou pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência. Ele não vacilou na fé, embora reconhecendo o seu próprio corpo sem vigor – pois tinha quase cem anos – e o seio de Sara igualmente amortecido. Ante a promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé deu glória a Deus. Estava plenamente convencido de que Deus era poderoso para cumprir o que prometera” (Rm 4, 18-21). 

A fé conduz Abraão a percorrer um caminho paradoxal. Ele será bendito, mas sem os sinais visíveis da benção: recebe a promessa de formar grande povo, mas com uma vida marcada pela esterilidade de sua esposa Sara; é conduzido em uma nova pátria, mas deverá viver como estrangeiro; e a única posse de terra que lhe será concedida será aquela de um pedaço de terreno para enterrar Sara (cfr Gen 23, 1-20). Abraão é bendito porque, na fé, sabe discernir a benção divina indo além das aparências, confiando na presença de Deus também quando os seus caminhos lhe parecem misteriosos.

O que significa isto para nós? Quando afirmamos: “Eu creio em Deus”, dizemos como Abraão: “Confio em ti, confio-me a ti, Senhor”, mas não como a Qualquer um a quem recorrer somente nos momentos de dificuldade ou a quem dedicar qualquer momento do dia ou da semana. Dizer “Eu creio em Deus” significa fundar sobre Ele a minha vida, deixar que a sua Palavra a oriente a cada dia, nas escolhas concretas, sem medo de perder algo de mim mesmo. Quando, no Rito do Batismo, por três vezes pergunto: “Crês?” em Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo, a santa Igreja Católica e as outras verdades de fé, a tríplice resposta é no singular: “Creio”, porque é a minha existência pessoal que deve receber um avanço com o dom da fé, é a minha existência que deve mudar, converter-se. Cada vez que participamos de um Batismo devemos perguntar-nos como vivemos cotidianamente o grande dom da fé. 

Abraão, o crente, ensina-nos a fé; e, como estrangeiro na terra, nos indica a verdadeira pátria. A fé nos torna peregrinos na terra, inseridos no mundo e na história, mas em caminho para a pátria celeste. Crer em Deus nos torna, portanto, portadores de valores que frequentemente não coincidem com a moda e a opinião do momento, pede-nos para adotar critérios e assumir comportamentos que não pertencem ao modo comum de pensar. O cristão não deve ter temor de ir “contra a corrente” para viver a própria fé, resistindo a tentação da “uniformidade”. Em tantas de nossas sociedades Deus se tornou o “grande ausente” e no seu lugar estão muitos ídolos, diversos ídolos e sobretudo a posse e o “eu” autônomo. E também os significativos e positivos progressos da ciência e da técnica têm levado o homem à ilusão de onipotência e de auto-suficiência, e um crescente egocentrismo criou não poucos desequilíbrios dentro dos relacionamentos interpessoais e dos comportamentos sociais. 

No entanto, a sede de Deus (cfr Sal 63, 2) não foi extinta e a mensagem evangélica continua a ecoar através das palavras e obras de tantos homens e mulheres de fé. Abraão, o pai dos crentes, continua a ser pai de muitos filhos que aceitam caminhar sob seus passos e se colocam em caminho, em obediência à vocação divina, confiando na presença benevolente do Senhor e acolhendo a sua benção para fazer-se benção para todos. É o mundo abençoado da fé ao qual todos somos chamados, para caminhar sem medo seguindo o Senhor Jesus Cristo. E é um caminho às vezes difícil, que conhece também o julgamento e a morte, mas que abre a vida, em uma transformação radical da realidade que somente os olhos da fé são capazes de ver e desfrutar em plenitude. 

Afirmar “Eu creio em Deus” leva-nos, então, a partir, a sair continuamente de nós mesmos, como Abraão, para levar na realidade cotidiana na qual vivemos a certeza  que nos vem da fé: a certeza, isso é, da presença de Deus na história, também hoje; uma presença que leva vida e salvação, e nos abre a um futuro com Ele para uma plenitude de vida que não conhecerá nunca o pôr do sol.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O “Platão do século XX” considera que Bento XVI reconcilia fé e razão


Roma, 21 Jan. 13 / 05:23 pm (ACI/EWTN Noticias).- Robert Spaemann é um dos filósofos mais reconhecidos deste tempo e foi chamado “o Platão do século XX”. Em uma visita a Roma, assegurou que o Papa Bento XVI reconcilia a fé e a razão.
Robert Spaemann

O filósofo visitou Roma recentemente para apresentar na Universidade da Santa Croce seu livro “Fins Naturais: História e redescobrimento do pensamento teleológico”, publicado pela editorial Ares.

Spaemann nasceu em Berlim (Alemanha), no ano de 1927 e é autor de diversas obras em 12 idiomas. É Doutor Honoris Causa pelas Universidades de Friburgo (Suíça), Navarra (Espanha) e Pontifícia Universidade Católica do Chile.

Além disso, é membro da Pontifícia Academia para a Vida e da Academia Chilena de Ciências Sociais, Políticas e Morais, do Instituto do Chile.

Em uma entrevista concedida ao portal EWTN News, Spaemann afirmou que a principal característica filosófica de Bento XVI “é que ele reconcilia a crença e a razão. Algo difícil de encontrar atualmente”.

“Antes, a crença e a razão se opunham uma à outra… mas agora é ao contrário, porque muitos acadêmicos não acreditam na razão. Os cristãos acreditam que devem sustentar-se em razões, confiar nela e não deixar que sejam afastados com as palavras”.

Neste sentido, Bento XVI “é um Papa maravilhoso. Um homem razoável, pio e inteligente… é alguém que enlaçou a crença tradicional cristã com a razão. Ele diz que necessitamos um termo que não limite os cientistas que não trabalham com a teologia. Enquanto que os cientistas estão interessados em saber como eles podem manipular as coisas”, acrescentou.

Por último o estudioso assinalou que o Santo Padre dá resposta ao filósofo Thomas Hobbes, “ele disse ‘reconhecer algo, é saber que podemos fazê-lo sem tê-lo’. Mas esse é um raciocínio limitado. A razão correta e estendida seria perguntar ‘o que é isso?’ ‘aonde se deseja ir?’ ‘o que é tudo esto?’”.

“O Papa é alguém que defende esta perspectiva, assim é um grande amigo da filosofia”, concluiu.

Ao evento estiveram presentes centenas de pessoas, acadêmicos e também o Vigário Emérito da diocese de Roma, Cardeal Camillo Ruini, quem escreveu o prefácio da obra.

Em entrevista com o EWTN Notícias, Ruini explicou que Spaemann “reintroduz ao pensamento contemporâneo a grande pergunta sobre a finalidade, o âmbito final, assinalando os assuntos que a modernidade tendeu a rechaçar e a considerar como irrelevantes”.

“O Debate com a ciência e a cultura de hoje, mostrando que a finalidade é um elemento que não pode ser eliminado não só em termos de vida humana mas também no sentido maior da biologia e do destino de toda vida”, concluiu. 

Apresentados ao Papa os dois cordeiros cuja lã servirá para confeccionar o pálio sagrado


Cidade do Vaticano (RV) - A Igreja celebrou nesta segunda-feira, 21 de janeiro, a memória litúrgica de Santa Inês e, segundo uma tradição antiga, nesta data são apresentados ao Papa dois cordeiros abençoados.

A lã deles servirá para confeccionar os pálios sagrados, ou seja, as insígnias que no dia 29 de junho de todos os anos o Santo Padre entrega aos novos arcebispos metropolitanos.

Também este ano, logo após o meio-dia, a cerimônia realizou-se na residência apostólica, no Vaticano. Os dois cordeiros apresentados a Bento XVI trazem à mente o martírio da Santa, de quem o Papa ano passado fizera um retrato espiritual. Aproveitamos a ocasião para recordar.
Era 21 de janeiro do ano 305, Estádio Domiciano, onde hoje se encontra a famosa Praça Navona, no centro de Roma. A Cidade Eterna preparava-se para assistir outro banho de sangue. Havia cerca de dois anos, o imperador Diocleciano decidira exterminar os cristãos uma vez por todas. A perseguição foi caracterizada pela violência mais feroz.
Naquele 21 de janeiro encontrava-se acorrentada uma adolescente de 12-13 anos. A sua culpa residia no fato de, além de ser cristã, não querer renunciar à sua escolha de fidelidade a Jesus feita na castidade.

Inutilmente, os carnífices tentaram de tudo para fazê-la renunciar a sua fé. Acabaram por ceifar-lhe a vida desferrando-lhe um golpe mortal de espada, como se fazia naquele tempo com os cordeiros.

Essa é, substancialmente, a história do martírio de Santa Inês, segundo as fontes antigas, embora com algumas discordâncias historiográficas. Ao invés, aquilo de que a Igreja não tem dúvidas é da extraordinária têmpera de fé demonstrada pela mártir, como ressaltou o Papa ano passado:

"Martírio – para Santa Inês – quis significar a generosa e livre aceitação de entregar a própria vida jovem, na sua totalidade e sem reservas, a fim de que o Evangelho fosse anunciado como verdade e beleza que iluminam a existência. No martírio de Inês, acolhido com coragem no Estádio de Domiciano, resplandece para sempre a beleza de pertencer a Cristo sem titubeios, consagrando-se a Ele."
 (Discurso Almo Colégio Capranica, 20 de maio de 2012)
Em seu martírio, observara o Papa, "Inês selou outro elemento decisivo da sua vida, a virgindade para Cristo e para a Igreja":

"De fato, o dom total do martírio é preparado pela escolha consciente, livre e madura da virgindade, testemunhada pela vontade de ser totalmente de Cristo. Se o martírio é um ato heróico final, a virgindade é fruto de uma prolongada amizade com Jesus amadurecida na escuta constante da sua Palavra, no diálogo da oração, no encontro eucarístico. Inês, ainda jovem, havia aprendido que ser discípulos do Senhor significa amá-lo arriscando toda a existência."
 (Discurso Almo Colégio Capranica 20 de maio de 2012)

Em 29 de junho próximo, Bento XVI entregará o pálio sagrado aos novos arcebispos metropolitanos. O rito se realizará em outra praça, também ela teatro de martírio: a praça São Pedro. Não é uma casualidade, porque, como afirmou o Papa...

"...essa nossa cidade é fundada também na amizade com Cristo e no testemunho de seu Evangelho, de muitos de seus filhos e filhas. A generosa doação deles a Cristo e ao bem dos irmãos é um componente primário da fisionomia espiritual de Roma".
  (Discurso Almo Colégio Capranica, 20 de maio de 2012) (RL)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Ainda não preparada para o sofrimento e já madura para a vitória!


Do Tratado sobre as Virgens, de Santo Ambrósio, bispo
 (Lib. 1, cap. 2.5.7-9:PL 16, [edit. 1845],189-191)
(Séc.IV)

Celebramos o natalício de uma virgem: imitemos sua integridade; é o natalício de uma mártir: ofereçamos sacrifícios. É o aniversário de Santa Inês. Conta-se que sofreu o martírio com a idade de doze anos. Quanto mais detestável foi a crueldade que não poupou sequer tão tenra idade, tanto maior é a força da fé que até naquela idade encontrou testemunho.

Haveria naquele corpo tão pequeno lugar para uma ferida? Mas aquela que quase não tinha tamanho para receber o golpe da espada, teve força para vencer a espada. E isto numa idade em que as meninas não suportam sequer ver o rosto zangado dos pais e choram como se uma picada de alfinete fosse uma ferida!

Mas ela permaneceu impávida entre as mãos ensanguentadas dos carrascos, imóvel perante o arrastar estridente dos pesados grilhões. Oferece o corpo à espada do soldado enfurecido, sem saber o que é a morte, mas pronta para ela. Levada à força até os altares dos ídolos, estende as mãos para Cristo no meio do fogo, e nestas chamas sacrílegas mostra o troféu do Senhor vitorioso. Finalmente, tendo que introduzir o pescoço e ambas as mãos nas algemas de fero, nenhum elo era suficientemente apertado para segurar membros tão pequeninos.

Novo gênero de martírio? Ainda não preparada para o sofrimento e já madura para a vitória! Mal sabia lutar e facilmente triunfa! Dá uma lição de firmeza apesar de tão pouca idade! Uma recém-casada não se apresaria para o leito nupcial com aquela alegria com que esta virgem correu para o lugar do suplício, levando a cabeça enfeitada não de belas tranças mas de Cristo, e coroada não de flores mas de virtudes.

Todos choram, menos ela. Muitos se admiram de vê-la entregar tão generosamente a vida que ainda não começara a gozar, como se já tivesse vivido plenamente. Todos ficam espantados que já se levante como testemunha de Deus quem, por causa da idade, não podia ainda dar testemunho de si. Afinal, aquela que não mereceria crédito se testemunhasse a respeito de um homem, conseguiu que lhe dessem crédito ao testemunhar acerca de Deus. Pois o que está acima da natureza, pode fazê-lo o Autor da natureza.

Quantas ameaças não terá feito o carrasco para incutir-lhe terror! Quantas seduções para persuadi-la! Quantas propostas para casar com algum deles! Mas sua resposta foi esta: “É uma injúria ao Esposo esperar por outro que me agrade. Aquele que primeiro me escolheu para si, esse é que me receberá. Por que demoras, carrasco? Pereça este corpo que pode ser amado por quem não quero!” Ficou de pé, rezou, inclinou a cabeça.

Terias podido ver o carrasco perturbar-se, como se fosse ele o condenado, tremer a mão que desfecharia o golpe, e empalidecerem os rostos temerosos do perigo alheio, enquanto a menina não temia o próprio perigo. Tendes, pois, numa única vítima um duplo martírio: o da castidade e o da fé. Inês permaneceu virgem e alcançou o martírio.