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segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Discurso do Papa Pio XII aos esposos sobre o Sagrado Coração de Jesus

Nas revelações plenas de amor, que tanto impulso deram nos tempos modernos à grande devoção para com o Sagrado Coração de Jesus. Nosso Senhor prometeu, entre outras coisas, que "onde quer que a imagem deste Coração for exposta para ser singularmente honrada, ela ali atrairá toda sorte de bênçãos". Confiantes na palavra divina, vós podeis portanto e quereis certamente assegurar-vos os benefícios de tal promessa, conservando em vossa moradia a imagem do Sagrado Coração com as honras que a ele são devidas. Nas famílias nobres é sempre considerado como uma glória mostrar esculpidas no mármore, fundidas no bronze, pintadas sobre a tela a efígie dos grandes antepassados, que os seus descendentes contemplam e admiram nos palácios ou nos castelos com sentimento de legítimo brio. Mas é talvez necessário ser nobre ou que um retrato de família seja uma obra de arte, para que o coração se comova diante da imagem de um avô ou de um pai? Inumeráveis são as pobres habitações onde uma rústica moldura é com piedoso cuidado guardada, é uma simples fotografia, talvez com as tintas já amarelecidas, com os lineamentos desmaiados pelo tempo, recordação entretanto inestimavelmente preciosa de um ser caro, do qual, em uma tarde de luto, foram fechadas as pálpebras e os lábios, sepultado o cadáver, perdida a presença sensível, mas de que se crê, não obstante os anos, ao admirar aquelas pálidas efígies, ver ainda resplandecente o olhar, sonha-se ouvir a voz familiar, sentir a mão acariciadora.

Cumpre, portanto, que a imagem do Coração, "que tanto amou os homens", seja exposta e honrada na vossa casa, como aquela do parente mais íntimo, mais amado, e que derrama os tesouros de suas bênçãos sobre vossas pessoas, sobre vossos filhos, sobre vossas empresas. "Exposta e honrada"; isto quer dizer que esta imagem não deve somente velar sobre vosso repouso, em um quarto privado, mas ser tida lealmente em honra, sobre a porta de ingresso, ou no local das visitas, ou na sala de jantar, ou em outro lugar onde freqüentemente se passa. Pois Jesus disse no Santo Evangelho: "Quem quer que me reconhecer publicamente diante dos homens, eu também o reconhecerei diante de meu Pai, que está nos céus".

"Honrada": quer dizer que diante da preciosa estátua ou da modesta imagem do Sagrado Coração; uma mão cuidadosa colocará ao menos, de quando em quando, algumas flores, acenderá uma vela e também haverá de manter, como sinal constante de fé e de amor, a flama de uma lâmpada e em torno dela reunir-se-á toda a tarde a família para um ato coletivo de homenagem, uma humilde expressão de arrependimento, um pedido de novas bênçãos.

Em uma palavra, o Sagrado Coração é honrado devidamente em uma casa, quando aí é por todos e por cada um reconhecido como Rei de amor; o que se exprime dizendo que a família foi a Ele consagrada. Já que o dom total de si, feito a uma causa ou a uma pessoa santa, se chama consagração. Ora, o Coração de Jesus se empenhou em colmar de graças especiais aqueles que em total modo se derem a Ele.

Mas quem se consagra deve também cumprir as obrigações que derivam de tal ato. Quando o Sagrado Coração reina verdadeiramente em uma família - certamente Ele tem direito de reinar em toda parte -, é preciso que uma atmosfera de fé e de piedade envolva aquela habitação bendita, envolva pessoas e coisas. Longe, portanto, dela, tudo o que contristaria o Sagrado Coração: prazeres perigosos, infidelidades, intemperança, livros, revistas, figuras hostis à religião e aos Seus ensinamentos! Longe, nas relações sociais, aquelas condescendências, hoje tão comuns, que desejariam conciliar a verdade com o erro, a licença com a moral, a injustiça egoísta e avara com a obrigação da caridade cristã! Longe certas maneiras de caminhar na rua, maneira intermediária entre a virtude e o vício entre o céu e o inferno! Na família consagrada, progenitores e filhos se sentem sob o olhar e na familiaridade de Deus; são portanto dóceis aos Seus mandamentos e aos preceitos de Sua Igreja; diante da imagem do Rei celeste tornado para eles terrestre amigo e hóspede perene, afrontam sem temor mas não sem mérito, todas as fadigas que exigem seus deveres cotidianos todos os sacrifícios que impõem as dificuldades extraordinárias, todas as provas que trazem as disposições da Providência, todos os lutos e todas as tristezas que, não somente a morte, mas a vida mesma inevitavelmente semeia como tormentosos espinhos sobre os caminhos daqui debaixo.

Deus, que criou o homem por amor e para ser por Ele amado não somente fez apelos à sua inteligência e à sua vontade, mas para tomar-lhe o coração, tomou o próprio Deus um coração de carne. E, pois, que o sinal mais patente do amor entre dois corações é o dom total de um ao outro, Jesus digna-Se de propor ao homem esta troca de corações, Ele deu o Seu no Calvário, dá-o todo dia, milhares de vezes, sobre o altar, e em troca pede o coração do homem "Praebe fili mi, cor tuum mihi": Meu filho dá-me o teu coração! Este apelo universal endereça-se particularmente à família que são especialíssimos os favores que o Coração Divino a ela concede.
Papa Pio XII

 O homem, obra-prima do Criador, foi feito à imagem de Deus. Ora na família esta imagem adquire, por assim dizer, uma peculiar semelhança com o divino modelo, porque, como a essencial unidade da natureza divina existe em três pessoas distintas, consubstanciais e coeternas assim a moral unidade da família humana se atua na trindade do pai, da mãe e de sua prole.

A fidelidade conjugal e a indissolubilidade do matrimônio cristão constituem um princípio de unidade que pode parecer contrário à parte inferior do homem, mas é conforme a sua natureza espiritual; de outra parte o mandamento dado ao primeiro par humano: "Crescite et multiplicamini" fazendo da fecundidade uma lei, assegura à família um dom de perpetuar-se através dos séculos e coloca nela um como que reflexo da eternidade.

As grandes bênçãos da antiga lei foram prometidas e dadas à família. Noé não foi salvo só do dilúvio: entrou na arca "com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos", para sair incólume com eles; depois que Deus bendisse a ele e à sua descendência, à qual ordenou crescer e multiplicar-se ate encher a terra. As promessas feitas solenemente a Abraão eram endereçadas, como São Paulo recordava em sua carta aos Gálatas não somente a ele, mas também à sua progênie que possuiria a terra prometida e seria multiplicada até fazer do patriarca o pai de muitas gentes. Quando Sodoma foi destruída por causa de suas iniqüidades, e precisamente por causa dos delitos contra a família, o fiel Lot, advertido pelos anjos, foi poupado com suas filhas seus genros. Herdeiro das promessas e das predileções do Altíssimo, o Rei Davi cantou a misericórdia divina, que se difundia sobre sua estirpe, de geração em geração. Já que, depois de tê-lo tomado, pequeno pastor, enquanto ia atrás do rebanho, e ter-lhe dado um nome grandioso, e tê-lo libertado de todos os seus inimigos, o Senhor lhe anunciou que lhe teria "feito uma casa", quer dizer uma família, e que dela tomaria cuidado paternalmente: "Quando forem cumpridos os teus dias e tu dormires com os teus pais, eu suscitarei depois de ti a tua posteridade".

Na nova lei também novas graças são dadas à família. O sacramento faz do matrimônio mesmo um meio de mútua santificação para os cônjuges e uma fonte inexaurível de auxílios sobrenaturais; torna a sua união símbolo da que existe entre Cristo e a Sua Igreja; faz deles colaboradores da obra do Espírito Santo. Não é porventura esta uma verdadeira predileção de Deus, um amor do Seu Coração, como cantava o Salmista em ver os pensamentos do Coração divino através das gerações humanas: "Cogitationes cordis eius in generatione et generationem"?

Mas não é tudo ainda. Às famílias cristãs este Coração dá e promete também mais. Antes de tudo ele quis oferecer a elas um modelo, por assim dizer, mais tangível e imitável que a sublime e inacessível Trindade. Jesus "autor e consumador da fé", que renunciou às alegrias humanas e "propondo-se a alegria, susteve a cruz, não fazendo caso da ignomínia", provou a doçura do lar em Nazaré. Nazaré é o ideal da família, porque nela a autoridade serena e sem aspereza se unia a uma obediência sorridente e sem hesitação; porque a integridade aí se unia à fecundidade, o trabalho à oração, o bem querer humano à benevolência divina. Eis o exemplo e o encorajamento que Jesus vos oferece! Mas o Seu coração reserva a vós, chefes de família dos séculos novos, bênçãos ainda mais explícitas. Para as famílias que se consagram a Ele, este Coração divino se empenhou em assisti-las e protegê-las quando se encontrarem em qualquer necessidade. Oh! quantas necessidades, por vezes bem duras, oprimem hoje a família, quantas outras a ameaçam! Ninguém talvez pode dizer-se sem desventuras no presente sem preocupações para o futuro, e além disto na família o perigo de cada um torna-se a solicitude de todos e o perigo de todos aumenta a ânsia de cada um.

Ora, é portanto mais que nunca o momento de dirigir-se ao Sagrado Coração e de consagrar-se a Ele com tudo aquilo que nos é caro. Confiai a Ele o novo lar que fundastes e que não espera senão o desenvolvimento na calma, embora esteja em meio às agitações do mundo. Confiai a Ele a casa, que talvez tivestes de abandonar, deixando velhos progenitores privados no futuro do vosso apoio. Confiai a Ele a pátria, cuja terra fecundada com o suor e talvez também com o sangue de vossos avós, pede-vos também que sejais generosos em servi-la. Confiai-lhe conosco a santa Igreja, que tem promessas de vida eterna e sabe que não sucumbirá sob os assaltos do inferno, mas que, embora isto, chora como Raquel sobre muitos de seus filhos que não existem mais, sobre tantos de seus templos destruídos, de seus sacerdotes impedidos no exercício de seus ministérios, sobre inumeráveis pobres almas, ovelhas errantes entre as ruínas de seus rebanhos aniquilados ou nos desertos do exílio, enquanto os esforços unidos do engano e da sedução procuram afastar do único e verdadeiro pastor divino.

Confiai finalmente a humanidade inteira ao Sagrado Coração, esta humanidade dividida, dilacerada, ensangüentada (1).

(1) Discurso aos esposos, 5 de junho, 1940.

Fonte: Pio XII e os problemas do mundo moderno, tradução e adaptação do Padre José Marins, 2.ª Edição, edições Melhoramentos.

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