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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Sobre os Santos pelo grande Papa Pio XII

Na multidão dos santos que venera, a Igreja oferece aos fiéis patronos para os diversos estados e as diversas idades da vida.

Todos os santos! que coisa quer significar esta data? Comumente e em primeiro lugar significa lembrar os heróis do cristianismo, aqueles que uma última e definitiva sentença do magistério infalível declara terem sido recebidos na Igreja Triunfante e cujo culto é prescrito na Igreja militante universal. Toda família cristã volta quase instintivamente o olhar para a Sagrada Família de Nazaré e atribui-se um título particular à proteção de Jesus, Maria e José. Mas, depois deles, numerosos homens e mulheres santificaram-se na vida familiar, como os Santos Crisanto e Daria, cônjuges, mártires sob o Imperador Numeriano. Existem no céu pais de família admiráveis, como São Fernando III, Rei de Castela e de Leon, que educou piamente os seus quatorze filhos; mães heróicas, como Sta. Felicidade, romana, que, - segundo os atos do seu martírio, - sob o Imperador Antonino, viu com seus próprios olhos os sete filhos mortos entre atrozes tormentos, até que a ela própria decapitaram. A mãe fortíssima, narra São Pedro Crisólogo, girava entre os cadáveres transpassados de seus filhos mais alegre do que se fosse entre os queridos berços onde tinham dormido quando crianças, porque com os olhos internos da fé percebia tantas palmas quantas eram as feridas, tantos prêmios quantos eram os tormentos, tantas coroas quantas eram as vítimas.

Todavia, como cada um dos santos durante o ano tem o seu dia de festa, pode-se deduzir que a Igreja na solenidade de Todos os Santos vai além de uma simples recordação coletiva dos santos.

Na Igreja Triunfante, antes de tudo. Que no céu, - além dos grandes vencedores, refulgentes de luz por sua canonização ou pela simples beatificação, - existam multidões de almas, ignoradas sobre a terra, mas beatificadas pela visão intuitiva, e que seu número ultrapasse todos os cálculos humanos, o Apóstolo São João, que tinha visto a glória das mesmas, dá testemunho no Apocalipse: "Post haec vidi turbam magnam, quam dinumerare nemo poterat...: stantes ante thronum, et in conspectu Agni, amicti stolis albis, et palmae in manibus eorum", e estes eleitos, sem nome distinto, eram "ex omnibus gentibus, et tribubus, et populis, et linguis", de todas as gentes e tribos e povos e línguas.


Que dizer agora dos santos da Terceira Igreja, isto é, daqueles que militam ainda sobre a terra? Segundo o sentido etimológico e mais largo da palavra, a santidade é o estado de uma pessoa ou de uma coisa reputada inviolável e sagrada. Assim Cícero falava da "matronarum sanctitas", da santidade daquelas esposas universalmente respeitadas que eram as matronas romanas. Em mais alto sentido no Antigo Testamento o Senhor dizia aos filhos de seu povo: "Sede santos, porque eu sou santo". E unindo ao preceito o auxílio necessário para cumpri-lo, ajuntava: "Sou eu o vosso Senhor, que vos santificou". No Novo Testamento, ser santo significa ter sido consagrado a Deus com o batismo e conservar o estado de graça, esta vida sobrenatural, toda interior, que sozinha, aos olhos do Senhor e dos anjos, divide os homens em duas classes profundamente diferentes; uns privados da graça santificante, os outros elevados até esta misteriosa mas real participação da vida divina. Por isto os primeiros cristãos, em mais passagens do Novo Testamento, são designados com o nome de santos. Assim por exemplo, São Paulo se acusa de ter, antes de sua conversão, fechado nas prisões um grande número de santos. O próprio Apóstolo escrevia aos fiéis de Éfeso: "Vós sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus", e exortava os de Roma para socorrer as necessidades dos santos.

Estes santos da terra têm também os seus méritos, que podem ser em vantagem dos outros homens e das almas que estão se purificando. Mas a Madre Igreja sabe muito bem que os méritos dos vivos são precários e que se alguns dos seus filhos são desde agora, sobre esta terra, potentes advogados para os seus irmãos, têm também eles, como todos aqueles que militam ainda aqui embaixo, uma contínua necessidade de intercessão. Por isto ela conclui assim a sua oração na festividade de todos os santos: "Concedei-nos, Senhor, a desejada abundância de tua propiciação, graças a um número multiplicado de intercessores!" (1).

(I) Discurso aos esposos, 8 de maio e 6 de novembro, 1940.
Marcadores: Discursos de Papa Pio XII

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